Em World War Z parece que estamos na Black-Friday dos zombies. Nós somos um produto muito desejado e em promoção, as filas são imensas e os clientes parecem ‘mortos’ de desejo por nos consumir. Desenvolvido pela Sabre Interactive e publicado pela Focus Home Interactive, World War Z é um jogo de tiro na terceira pessoa baseado no cenário fictício do livro e filme com o mesmo nome. Em World War Z jogamos sempre acompanhados, no modo cooperativo até três amigos, ou no modo singleplayer cooperativo, onde a nossa equipa é preenchida com NPCs, nem sempre tão eficazes quanto gostaríamos, mas sobre isto falaremos mais à frente! Será que World War Z fará justiça ao mundo sombrio e arrojado dos livros, ou é apenas mais um shooter de zombies sem alma?
World War Z
A história decorre depois de um surto infeccioso global ter afetado a maioria das grandes cidades do mundo. Escrito pelo autor americano Max Brooks, o romance World War Z é uma coletânea de contos individuais, narrados por um agente da Comissão Pós-Guerra das Nações Unidas. O livro conta ainda com outras passagens, que descrevem o seu percurso durante a luta desesperada de mais de uma década, após o devastador conflito global que colocou a humanidade em risco face a ameaça zombie.
O videojogo de World War Z é, na sua essência, um shooter na terceira pessoa, com um ritmo acelerado e objetivos defensivos regulares. As comparações com as sagas Left 4 Dead, ou até Payday, são inevitáveis. Também em World War Z, o objetivo primário será sobreviver às hordas infinitas de zombies ameaçadores com a ajuda de mais três companheiros de viagem. Quem conhece o filme, ou jogou Left 4 Dead, irá reconhecer a primeira cena introdutória de World War Z, que introduz as personagens diretamente na ação.
Seria de esperar que, uma vez que World War Z apresenta um estilo mais arcade que outros títulos, principalmente devido à quantidade exagerada de zombies, o jogo pecasse em alguns outros detalhes como o realismo dos disparos. Isso é algo que não acontece! Embora falhe em outras áreas que falaremos mais à frente, World War Z é bastante sólido neste ponto, principalmente na mecânica das armas. Os tiros carregam consigo a força do impacto, tanto no recoil como nos alvos que atingem, há uma lista versátil de armas e equipamentos para utilizar, e a adição de fogo amigo exige algum cuidado antes de pressionarmos o gatilho, um detalhe que achámos interessante.
Durante a pequena campanha Co-Op, podemos explorar cidades como Nova Iorque, Moscovo, Tóquio e Jerusalém, num total de 11 missões diferentes. Todas as missões são bastante semelhantes, o que se pode tornar um pouco entediante ao logo do jogo. Com um grupo de até quatro jogadores, cada missão é uma corrida curta e linear até um ponto de defesa, onde teremos de lutar contra hordas maciças de zombies, num sistema que se repete ao longo da mesma missão até esta ser concluída.
Mesmo que os objetivos e o caminho sejam algo repetitivos e lineares, a natureza mundana da experiência é salva por dois pontos principais, os ambientes e os zombies. Cada ambiente que foi criado para cada uma das missões, foi muito bem trabalhado, com múltiplos pontos de visão e locais de emboscada potencialmente perigosos, e únicos o suficiente para nos fazer mergulhar na cultura e design arquitetónico daquela região. Os zombies, além de aparecerem em quantidades gigantescas, são muito rápidos, ou pelo menos bem mais velozes do que estamos habituados em jogos do mesmo género. Quando jogamos com amigos, conferem uma adrenalina extra aos momentos em que é o ‘salve-se quem puder’.
Uma experiência de grupo
Quando jogamos sozinhos, a experiência de World War Z é um pouco inferior. Com missões relativamente idênticas, que podem aborrecer ao longo do tempo, nem com a ajuda dos nossos companheiros NPC a aventura se torna mais agradável. A AI é um dos aspetos menos bem trabalhos neste jogo. Cruciais para uma campanha Co-Op singleplayer, os NPC que nos acompanham são pouco realistas nas suas decisões e geralmente colocam-se em situações demasiado perigosas, sem qualquer cuidado com o ambiente. Felizmente, quando jogamos com pessoas reais do nosso lado, este detalhe deixa de importar, e é extremamente divertido formar equipa e definir estratégias conjuntas para sobreviver às enormes vagas de zombies. No entanto, nem sempre podemos contar com ajuda real, e uma AI de qualidade teria feito de World War Z um jogo bem mais completo.
Como no filme
Já referimos como as hordas de zombies são enormes, muitas vezes caindo de precipícios, rastejando até nós ou apenas surgindo do nada no horizonte. Às vezes, parece mesmo que a corrente de zombies nunca vai terminar, algo que não seria totalmente mau, ou não houvesse intervalos entre vagas de zombies que não parecem fazer sentido. Ainda assim, a mecânica dos zombies foi mesmo uma das melhores surpresas deste título. Rápidos e sempre em grupos, são uma ameaça constante que exige alguma perícia e concentração para controlar. Não se trata de uma experiência realista, ou não fossemos estar a falar de mortos-vivos, mas o que importa é que nos divertimos muito a eliminar estes seres possuídos por um vírus maligno.
As icónicas ‘pirâmides de zombies’ que podemos ver no filme World War Z, são uma presença constante também no jogo, e embora facilitem a eliminação de grandes quantidades de zombies com explosivos ou armadilhas, são uma visão aterradora que lhes permite chegar a locais de outra forma inacessíveis. É uma pena que estes grupos de mortos-vivos se comportem sempre como uma unidade, com um único objetivo, e aparentemente, uma única barra de vida.
Enquanto os zombies mais próximos e que nos tentam morder apresentam um comportamento mais próximo do esperado para este tipo de inimigo, devendo ser eliminados um a um, aqueles que surgem em grandes hordas ou à distância não se comportam da mesma forma. Quando disparamos para um único zombie numa horda, fazemos com que todo o grupo leve dano, e podemos ver até alguns mortos-vivos caírem inanimados do lado oposto, embora não tenham sido atingidos por qualquer bala.
Talvez seja compreensível de uma perspetiva de equilíbrio do jogo, uma vez que seria quase impossível derrubar cada zombie individualmente, principalmente tendo em conta o tamanho dos grupos. No entanto, esta diferença torna-se demasiado óbvia. Mas não nos vamos focar demasiado no fator realismo, afinal de contas este é um jogo sobre zombies, e claramente feito com o foco no fator diversão.
Campanha Zombie
O modo campanha, que é possível completar em apenas algumas horas, é um pouco curto, e sem grandes razões para repetir. Uma das características que o define é a escassez de aspetos dinâmicos, e um sistema de progressão que é pouco interessante.
Embora exista uma espécie de sistema de personalização de armas, este é tão limitado e mal explicado que acaba por passar despercebido. Podemos colocar um silenciador ou trocar algumas características quando ganhamos experiência com um certo tipo de arma, mas não notamos grandes diferenças na jogabilidade. Existem seis classes diferentes no modo campanha, cada uma com diferentes armas e habilidades, mas também aqui as diferenças poderiam ser pronunciadas. A maioria das habilidades são passivas, e afetam muito pouco a jogabilidade geral, além disso podemos sempre alterar a nossa arma inicial posteriormente.
Dentro das opções, a classe médica é de longe a que mais se distingue das restantes, uma vez que nos permite curar os nossos aliados. No fim de contas, é notório que este é mesmo um jogo feito para jogar com amigos, e é esse o aspeto onde mais brilha.
À parte da campanha PvE, World War Z tem ainda um modo PvP, com um sistema de progressão e desbloqueios de habilidades totalmente separado do modo cooperativo. Esta pode ser uma experiência mais gratificante para os fãs do género, mas uma vez que não partilha nenhum elemento evolutivo com o outro modo, pode ser mais um motivo para não jogar a campanha. O modo PvP apresenta uma pequena lista de variações de jogo, mas sem a adição de zombies e hordas durante os encontros, acaba por não inovar, e ser o mesmo que já vimos milhares de vezes em tantos outros jogos semelhantes.
Detalhes a melhorar
A nível técnico, World War Z tem alguns pontos a melhorar. Com problemas de estabilidade online, Spawns em zonas erradas, ficheiros de Save corrompidos, e uma AI que tende a morrer em zonas inóspitas, a experiência de jogo acaba, com pena nossa, por ser fortemente afetada. No som, o jogo não impressiona nem compromete, estando dentro do esperado.
Na que toca aos visuais, não importa se estamos a correr pelas ruas cobertas de neve em Moscovo, ou se nos cruzamos por estradas cheias de carros em Nova Iorque, cada uma das áreas transmite uma sensação autêntica, com algumas cenas que remetem para um estilo cinematográfico. O movimento e a qualidade geral das animações dos personagens são um pouco inferiores ao nível apresentado nos ambientes, mas não é o suficiente para ser terrível.
VEREDITO
World War Z tem alguns momentos que são uma explosão absoluta, os vários tipos de zombies, as enormes pirâmides de zombies, e a velocidade com que avançam sobre nós, trazem pura emoção. No entanto, a jogar sozinho, esses momentos são poucos e distantes, deixando transparecer um jogo com muito pouco conteúdo, alguma falta de criatividade, e uma história quase inexistente. Felizmente, a jogabilidade em grupo é muito mais interessante. Poder definir estratégias, proteger os amigos e apanhar valentes sustos, são uma lufada de ar fresco no género, e claramente a melhor forma de jogar World War Z.
Mesmo com as suas falhas, nomeadamente na AI dos NPC aliados, e pequenos problemas de estabilidade online, World War Z é uma experiência de grupo que não deve ser subestimada. Com visuais de boa qualidade, um modo cooperativo muito divertido, e centenas, senão milhares de zombies, este é um jogo que os fãs do género não vão querer perder. Este é daqueles jogos que gostamos de ter sempre à mão, quando queremos passar uma tarde animada com amigos ou família.