Starfield é o novo RPG de ficção científica da Bethesda, um dos estúdios mais famosos do mundo dos videojogos. Starfield promete uma aventura épica no espaço, com mais de 100 horas de jogabilidade, milhares de planetas para explorar e uma história que aborda temas como religião, origem do universo e a solidão da humanidade.
Apelidado como o jogo mais esperado do ano, esteve em desenvolvimento desde 2015 e finalmente é lançado no dia 6 de setembro de 2023. Mas com tanto hype à volta do jogo, será que Starfield cumpre com as expectativas? Será que é o jogo que os fãs da Bethesda esperavam? Ou será que é uma deceção cósmica?
Nesta análise, vou tentar responder a esta e a outras perguntas, tendo em conta os vários aspetos do jogo, como a história, a jogabilidade, a exploração, o combate, as habilidades, a tecnologia e a interface.
Análise Starfield
A campanha de Starfield começa tal e qual como a de outros jogos da empresa, com um protagonista sem nome e sem rosto, que neste caso trabalha como mineiro num planeta remoto. Ao tocar num artefacto misterioso, tem uma visão do espaço e desmaia. Ao acordar, é recrutado pela Constelation, uma organização dedicada a explorar o universo e os seus segredos. O artefacto é uma chave para desvendar um mistério maior do que se pode imaginar, mas também é cobiçado por piratas e outras fações. O protagonista terá então que viajar por vários planetas, encontrar mais artefactos e descobrir a verdade sobre a sua origem e o seu destino.
A história de Starfield devia ser um dos pontos fortes do jogo, mas acaba por não ser, e pela razão mais óbvia de todas. A narrativa é envolvente e bem escrita, mas não é de todo surpreendente, e basta ler o pequeno resumo inicial para perceber que soa completamente cliché. Apesar de abordar temas interessantes e relevantes, apenas o faz mais tarde na campanha, o que faz do inicio bastante solitário e até rapidamente aborrecido. O que realmente faz destacar a história é a temática espacial, porque de outra forma estaríamos perante uma formula já bem conhecida. Falo dos jogos Fallout 4 e Skyrim, ambos do mesmo estúdio, e que serviram fortemente de inspiração para Starfield.
Para além de completar os objetivos das missões, o jogo oferece várias escolhas e consequências ao longo da história, algumas delas que afetam o desenrolar dos acontecimentos e o nosso relacionamento com os companheiros (followers).
Os companheiros, um componente habitual e conhecido para os fãs da Bethesda, são outro aspeto positivo da história. São personagens bem desenvolvidos, com personalidades distintas e histórias próprias. Alguns deles podem até tornar-se interesses românticos do protagonista, embora este seja um aspeto que poderia ser melhorado, uma vez que as interações românticas são pouco convincentes e ligeiras.
The Elder Scrolls of Fallout in Space
A jogabilidade de Starfield é baseada nos elementos clássicos dos RPGs da Bethesda, como a criação de personagens, o sistema de habilidades, o combate, a exploração e a personalização. O jogador pode escolher o género, o rosto, o cabelo e alguns detalhes físicos do seu personagem, bem como três características específicas que definem o seu passado e influenciam com que avanço começa no seu presente. Pouco mais do que isso muda com esta escolha, porque depois podemos sempre evoluir os restantes skills conforme jogamos.
Existem ainda uns ‘talentos’ únicos que mudam certos detalhes do personagem. Por exemplo, se escolher ter os pais vivos, temos de lhes enviar dinheiro regularmente, mas também podemos visitá-los e conversar com eles. Outra opção garante um admirador (fanático) que pode ser um tripulante gratuito na nossa nave espacial. As características não são esquecidas ao longo do jogo, e são notadas de vez em quando na jogabilidade e na história.
O sistema de habilidades permite ao jogador distribuir pontos por cinco categorias diferentes: combate (armas brancas ou de fogo), tecnologia (hacking ou engenharia), sobrevivência (saúde ou furtividade), pilotagem (navegação ou combate espacial) e social (persuasão ou intimidação). Cada habilidade pode ser melhorada até quatro vezes ao completar desafios específicos. Por exemplo, para aumentar a habilidade de furtividade, é preciso realizar ataques furtivos com sucesso. O sistema de habilidades é simples, mas eficaz, embora não permita criar builds muito variadas ou criativas.
O combate em Starfield é divertido e dinâmico, tanto em terra como no espaço. As armas têm um bom feedback e sensação de impacto. Os planetas com baixa gravidade e o jetpack permitem movimentos ágeis e acrobáticos. O combate espacial também é interessante e pode ser desafiador, principalmente contra várias naves inimigas em simultâneo. No entanto, o sistema de combate também tem os seus defeitos. A inteligência artificial dos inimigos é muito fraca e inconsistente. Os npcs são facilmente enganados ou ignorados, e às vezes param de atacar ou comportam-se de forma idiota. Chegam a entrar dentro das paredes e ficar por lá. O combate também pode tornar-se repetitivo e monótono, por não existir muita variedade de inimigos e situações.
Um mar de estrelas
A exploração é um dos aspetos mais importantes de Starfield, uma vez que o jogo oferece um universo enorme e cheio de planetas para visitar. No entanto, este é também um dos aspetos mais controversos e dececionantes do jogo. Talvez a expetativa fosse demasiada? É possível que sim, e o facto de hoje em dia percebermos como tudo funciona retira ainda mais emoção à experiência. O universo deve ser ainda maior do que imaginamos, algo na casa do infinito para um ser humano, e obviamente a Bethesda não podia desenhar cada um dos planetas individualmente. Sendo assim teve de criar um sistema de geração planetário, com um método que talvez já tenhamos visto melhor implementado em jogos como Minecraft ou No Man’s Sky.
A maioria dos planetas são gerados de forma procedural, ou seja, criados aleatoriamente a partir de um conjunto de peças pré-definidas. Isto resulta em planetas que parecem realistas à superfície, mas que não têm muito conteúdo ou personalidade no seu interior. São frequentemente desertos vazios e secos, sem vida orgânica ou mistérios para descobrir. As cavernas, as fábricas, os laboratórios e outras estruturas que se encontram nos planetas são também muito genéricas e sem originalidade. A exploração perde assim rapidamente o seu encanto e interesse, pois não há nada de novo ou surpreendente para ver ou fazer.
O jogo também não facilita a exploração porque usa um sistema de viagens que interrompe constantemente a imersão. Para viajar entre planetas ou sistemas estelares, é preciso usar o grav drive, que requer uma animação e um ecrã de carregamento. Para aterrar num planeta, também é preciso escolher uma zona de aterragem pré-definida ou definir uma própria, novamente com um ecrã de carregamento.
O espaço é usado apenas para criar atmosfera e combater naves inimigas, mas não há razão para ficar lá por muito tempo. A exploração só se torna mais interessante no modo New Game Plus, que desbloqueia novos conteúdos e eventos nos planetas. Mas até lá, é preciso ter muita paciência e sorte para encontrar algo que valha a pena explorar.
Tecnologia de outro mundo
A tecnologia usada em Starfield é outro ponto que merece destaque, tanto pelos seus méritos como pelos seus defeitos. O jogo usa uma versão melhorada do Creation Engine, o motor gráfico que a Bethesda usa desde Skyrim. Apesar das suas limitações, o jogo consegue criar momentos visuais impressionantes e artísticos, graças à sua excelente iluminação e ao seu estilo artístico único que a Bethesda chama de NASA Punk. As naves espaciais são incrivelmente detalhadas e convidam a ser admiradas no modo fotografia. Alguns planetas também têm paisagens deslumbrantes e animais exóticos que captam a atenção.
No entanto, o jogo também tem as suas falhas técnicas. As texturas não são as melhores, as animações ainda têm muito para melhorar, o desempenho é instável nas grandes cidades e os bugs são inevitáveis. Apesar de ser o jogo da Bethesda com menos erros no dia de lançamento (wow!), ainda há alguns problemas que atrapalham a experiência. Por exemplo, crashes, alguns erros de textura, inimigos que ficam presos em animações ou que param de atacar.
Falta de Desempenho
No PC (plataforma onde testamos o jogo), os problemas de desempenho são especialmente notórios, mas existem alguns truques para melhorar. Podes ler o nosso artigo sobre como melhorar o desempenho, com base nas várias experiencias que realizamos.
Por fim, tenho de falar da interface de Starfield, que é um dos aspetos mais fracos do jogo. Apesar de ser melhor e mais fácil de usar do que as interfaces dos jogos anteriores da Bethesda, ainda há algumas partes que são sobrecarregadas ou mal explicadas. Por exemplo, encontrei várias abreviaturas para alguns itens, cujo significado só pude ler no manual do jogo.
A interface também não é muito intuitiva ou personalizável, o que dificulta a navegação pelos menus e inventários. Nem sempre percebemos a lógica da organização dos botões, e algumas ações requerem demasiados passos para lá chegar.
Conclusão
Starfield é um jogo que não facilita a vida ao jogador, não fosse ele primo de jogos como Skyrim e Fallout 4. É um jogo que tem momentos brilhantes e momentos aborrecidos, que tem qualidades admiráveis e defeitos irritantes, que tem um potencial enorme, mas também é um desperdício evidente. Starfield é um jogo que exige paciência, compromisso e vontade de explorar o desconhecido, mas também é um jogo que recompensa quem se aventura pelo seu universo com uma temática fascinante, um combate divertido, personalização rica e uma atmosfera única.
Os muitos problemas acabam por tirar brilho às qualidades, e mesmo que possa vir a melhorar com patches e DLCs futuros, no estado atual é demasiado incompleto.
Starfield não é o jogo perfeito que os fãs da Bethesda esperavam, mas é um jogo que só a Bethesda poderia fazer.
[Análise baseada na versão de Starfield para PC]