O terror voltou a Raccoon City cerca de 20 anos depois da aventura original, com mais monstros, gráficos melhorados, e mais cenas de ação, enigmas e muitos momentos que farão qualquer jogador saltar da cadeira. Como esperado, Leon e Claire voltam a ser os protagonistas neste remake que fará as delícias dos jogadores mais nostálgicos e de todos os outros que descobrem Resident Evil 2 pela primeira vez. Não se trata de um jogo onde o Gore é gratuito e o jogador só tem de disparar enquanto caminha. Resident Evil 2 oferece muito mais do que isso. É uma aventura emocionante de dois heróis que lutam para sobreviver, enquanto fazem escolhas difíceis e lidam com a morte dos seus ex-colegas e amigos.
A história da saga Resident Evil, ou Biohazard como é conhecida no Japão, começou em 1996 com o lançamento do primeiro jogo concebido por Tokuro Fujiwara e desenvolvido pela Capcom para a PlayStation. A ideia original pretendia ser um remake de um jogo do mesmo autor e produtora. Sweet Home, lançado sete anos antes de Resident Evil, contava a história de 5 pessoas que exploravam uma mansão sinistra, cheia de zombies, enquanto procuravam relíquias valiosas. Baseado num filme japonês, Sweet Home foi um sucesso de vendas na altura. A produtora juntou-se ao mesmo autor para o desenvolvimento do remake com o mesmo nome. Alguns problemas de direitos de autor impediram o registo de Sweet Home, tendo a produtora escolhido o nome Resident Evil como título para este remake.
Tal como Sweet Home, o jogo que lhe serviu de inspiração, a história do primeiro Resident Evil decorria numa mansão invadida por zombies, mas as semelhanças ficaram por aqui. O novo jogo introduziu gráficos em 3D, câmera fixa e um mecanismo de controlos algo desajeitado, que tornava tudo ainda mais assustador. Na pele de um dos protagonistas, Chris Redfield ou Jill Valentine, somos convidados a procurar os sobreviventes da equipa Bravo, da unidade especial de polícia S.T.A.R.S.. Aqui, descobrimos que a mansão esconde um laboratório da Umbrella Corporation, responsável pelo desenvolvimento do T-Virus, com o objetivo final de criar uma arma biológica conhecida como Tyrant.
Aclamado como um dos jogos que definiu o estilo de horror, e resultado do grande número de vendas, Resident Evil foi adaptado para outras plataformas, recebendo versões para PC, Sega Saturn e Nintendo DS.
A primeira sequela foi lançada dois anos depois, em 1998, para a PlayStation, com o título Resident Evil 2. A história decorre alguns meses após os eventos do primeiro jogo, quando ratos começam a infetar a população de Raccoon City com o T-virus. Mais uma vez, podemos escolher qual das duas personagens principais queremos jogar – Claire Redfield, a irmã de Chris do primeiro jogo, ou Leon Kennedy, um polícia novato que iniciava o seu primeiro dia de serviço. A ideia base do jogo é tentar sobreviver à invasão de zombies, enquanto tentamos encontrar uma forma para escapar da cidade.
Tal como o seu antecessor, Resident Evil 2 foi um sucesso de vendas, com mais de 5 milhões de cópias vendidas apenas para a PlayStation. Posteriormente, foi também adaptado para a Nintendo 64, Dreamcast, GameCube e PC, onde continuou a impressionar. Em 1999 foi lançada a sequela Resident Evil 3: Nemesis.
Em 2002, o primeiro jogo da saga Resident Evil recebeu um remake em exclusivo para a Gamecube, tendo sido lançadas mais tarde as versões para as restantes plataformas. Este foi também o ano em que a saga deu o salto para o grande ecrã, com o lançamento do seu primeiro filme nos cinemas de todo o mundo. O sucesso de bilheteira veio consolidar a popularidade da saga, tendo sido lançados mais cinco filmes até ao momento. Embora a história no cinema não acompanhe nenhum jogo em particular, os filmes mostram algumas das personagens do universo Resident Evil, e detêm até hoje o título da série de filmes baseados numa saga de videojogos com maior sucesso de sempre.
Em 2005 foi lançado Resident Evil 4, um dos mais importantes na saga, uma vez que foi pioneiro na utilização da perspetiva de visão em terceira pessoa “over the shoulder” (por cima do ombro), um conceito que viria a revolucionar o género. Mais focado na ação, com menos elementos de sobrevivência, a história acompanha de novo Leon Kennedy, seis anos depois de Resident Evil 2. Desta vez, Leon é enviado numa missão para resgatar a filha do presidente dos Estados Unidos da América, que foi sequestrada por um culto em Espanha.
Resident Evil 4 foi muito bem-recebido pela crítica, com elogios à narrativa, jogabilidade e personagens. Recebeu vários prémios de Jogo do Ano e foi visto como um sucesso que influenciou a evolução no género de terror de sobrevivência, e de tiro na terceira pessoa. Em 2009 recebeu uma sequela com o título de Resident Evil 5, e em 2012 chega Resident Evil 6. Desta vez, sem grandes novidades, as duas sequelas não tiveram grande impacto na comunidade.
Depois de vários spin-offs, em 2017 a Capcom decidiu regressar às origens da saga, e lançou Resident Evil 7: Biohazard para PC, PlayStation 4, Xbox One e Nintendo Switch. Com mais elementos de sobrevivência e horror, divergia do estilo de ação usado em Resident Evil 5 e Resident Evil 6, tendo estreado também um novo estilo de câmera na primeira-pessoa.
Resident Evil 2
O novo Resident Evil 2 chega no dia 25 de janeiro, cerca de 20 anos depois do original de 1998. Numa era em que os remakes são cada vez mais comuns, é natural que olhemos com alguma desconfiança para um relançamento de um dos títulos mais famosos e aclamados da saga. Nem todos os remakes de videojogos que nos têm chegado nos últimos anos tem merecido elogios, e muitas vezes encostam-se à fama alcançada pelo título original para justificar um novo sucesso.
No entanto, esta não é a primeira vez que a Capcom tenta um remake ambicioso de Resident Evil, e talvez tenha aprendido algumas lições com essa experiência. Em 2002 lançou Resident Evil, para a GameCube, um remake do primeiro jogo da saga, que surpreendeu principalmente por apresentar gráficos muito detalhados para a época e grandes ajustes na jogabilidade. Embora melhorado, na sua essência era o mesmo jogo, idêntico ao original, e em nada veio revolucionar o género.
O remake de Resident Evil 2 tenta ser diferente ao introduzir partes da mecânica da ação de Resident Evil 4 e alguns elementos de sobrevivência e horror de Resident Evil 7. Este é um remake mais radical do que a maioria, e uma experiência intensa e aterrorizante que reconstrói o jogo desde o início, mas preserva o suficiente do material original para parecer uma homenagem.
Esta abordagem consegue tornar uma aventura conhecida numa nova experiência, uma vez que, embora a história se mantenha quase inalterada desde o jogo original, a nova câmera na terceira pessoa “por cima do ombro”, retirada do já clássico Resident Evil 4, altera completamente a perspetiva que temos dos ambientes, e principalmente, dos inimigos.
INVASÃO ZOMBIE
Por falar neles, nesta edição estão mais resistentes do que nunca! Um ou dois tiros na cabeça podem não ser suficientes para imobilizar um zombie, e uma vez aparentemente derrotados, é frequente vê-los levantarem-se de novo, continuando a investida, o que caracteriza um grande efeito dramático e um valente susto. Uma estratégia possível é tentarmos disparar para as pernas dos inimigos, em vez da tradicional técnica de arrancar a cabeça. Embora possam continuar vivos, o número de munições disponíveis pode ser demasiado limitado para garantir a eliminação de todos os zombies. Se não os matarmos, pelo menos conseguimos reduzir-lhes a mobilidade, e desta forma termos uma possibilidade de fuga.
Para compensar a nova vitalidade apresentada pelos inimigos, eles estão agora presentes em menor número que no original, e em localizações diferentes que variam ao longo do tempo. No jogo original existiam salas “seguras” onde podíamos fazer uma pausa ou simplesmente usar como plano de fuga quando as coisas corriam menos bem. É uma situação comum na maioria dos jogos do género, que aprendemos a aceitar e a gerir a nosso favor. Neste novo Resident Evil 2 nenhuma localização é segura, os zombies alteram a sua posição constantemente, e o imparável Mr. X já não evita entrar em qualquer sala onde nos encontremos.
JOGABILIDADE
Embora a nova jogabilidade na terceira pessoa pareça facilitada em relação ao jogo de 1998, nunca nos conseguimos sentir realmente seguros. Para isso contribuem o número limitado de balas disponíveis, itens utilizáveis e espaço no inventário. Somos obrigados a pensar cada decisão que tomamos. Se chegar a uma porta, devo tentar primeiro resolver puzzle para continuar o meu caminho, ou elimino primeiro os zombies do corredor? Terei balas suficientes? Mas também preciso de espaço para este item! Não existem formas corretas de o fazer, apenas formas que podem funcionar daquela vez, e esta imprevisibilidade torna toda a experiência muito mais excitante.
Os enigmas e puzzles são ao estilo puro Resident Evil. Temos de colecionar itens para abrir caminhos ocultos e resolver os quebra-cabeças que vão surgindo ao longo do jogo. Estes funcionam da mesma forma que em Resident Evil 7. Para resolver um quebra-cabeças o zoom é aumentado naquela secção, em vez de mudar para um menu diferente. Isto significa que alguns dos destes desafios precisam de ser concluídos em tempo real, enquanto outros fazem parar o tempo. Esta mudança de tratamento entre puzzles não faz grande sentido, mas deve ser justificada pela já elevada dificuldade do jogo em algumas das secções.
Mais perto do final do jogo, uma das áreas é tão claustrofóbica, e o número de itens tão limitado, que à primeira vista parece quase impossível de ultrapassar. No momento em que finalmente alcançamos um espaço mais seguro, estamos no limite dos nossos recursos, e as recompensas por sobrevivermos ao desafio dificilmente cobrem as perdas, comprometendo a continuação do nosso percurso. Esta dificuldade em nada se altera quando repetimos a experiência. Se em jogos do género podemos aprender o comportamento dos inimigos, e assim evitá-los em futuras passagens, neste remake de Resident Evil 2, as situações podem alterar-se rapidamente e será sempre complicado ultrapassar estas áreas, uma vez que todo o comportamento e cenário são imprevisíveis, algo que torna este jogo altamente desafiador.
Felizmente há uma estratégia de fuga, mais ou menos eficaz. Resident Evil 2 tem três configurações de dificuldade – o modo normal, sobrevivência e assistido. O modo assistido, automaticamente sugerido quando morremos três vezes na mesma zona, regenera a vida até perto da totalidade, enfraquece um pouco os inimigos e ativa o assistente de mira. Esta pequena ajuda não é, no entanto, suficiente para destruir a experiência de jogo, nem nos torna incrivelmente poderosos como em alguns títulos.
A história de Resident Evil 2 está dividida em duas partes principais. A primeira vez que jogamos, teremos de completar uma seção de abertura mais longa, com menos zombies e mais lenta. Se decidirmos completar a história uma segunda vez, com a outra personagem, a seção de abertura será mais curta, mas um pouco mais difícil e rápida, com mais zombies e mais ação. A partir daí, a campanha diverge na história única de Leon e Claire, com passagens ligeiramente diferentes e encontros com Bosses distintos.
4TH SURVIVOR E TOFU SURVIVOR
Ao completar a campanha principal da história com cada personagem, desbloqueamos dois modos extra, o 4th Survivor e o Tofu Survivor. No modo 4th Survivor, encarnamos Hunk, um soldado das forças especiais Umbrella, enquanto ele tenta ultrapassar uma pista de obstáculos e inimigos para alcançar o ponto de extração. Hunk está já equipado com armas, munição e outros itens, e como todo o percurso é cronometrado, convida o jogador a repetir a tarefa até à perfeição. O modo Tofu Survivor é semelhante, mas jogamos na pele de um resiliente bloco de Tofu.
Os modos extra deixam um pouco de água na boca, e alertam-nos para a inexistência de qualquer componente multijogador. Gostaríamos de poder partilhar a experiência num cenário co-op, ou, pelo menos, num minijogo elaborado para o efeito, algo que complementaria a oferta de conteúdo.
GRÁFICOS/PERFORMANCE TÉCNICA
A qualidade do grafismo, embora não seja indispensável, conjuga muito bem com o jogo. O aspeto sombrio de cada esquina, a gosma no chão e o visual frio e animalesco dos inimigos, foi recriado a um nível quase cinematográfico, que provavelmente se aproxima ainda mais do visual que os criadores sempre pretenderam na saga desde a sua origem.
Resident Evil 2 caracteríza-se por um ambiente típico dos filmes de terror, com áreas desertas mas sinistras, sombras que nos fazem palpitar e sons que acompanham na perfeição o dramatismo de cada cena. Quando somos perseguidos por zombies, toda a envolvência torna-se mais acelerada, com um som ambiente que acompanha a nossa batida cardíaca. Os efeitos sonoros são muito realistas, com profundidade e ajustados ao ambiente onde nos encontramos. Talvez falte uma banda sonora que possamos ouvir fora do jogo.
Os inimigos são variados, ainda assim conseguimos encontrar vários zombies que partilhavam a mesma skin ao longo da aventura. O aspeto sombrio e escuro dos vários ambientes, ajuda a camuflar algumas imperfeições nas roupas e outros adereços, algo não tão evidente nos objetos parados. As falas das personagens, nem sempre ajustadas ao movimento da boca, é algo desconfortante, embora seja compreensível que seria impossível ajustar os movimentos dos lábios às várias línguas disponíveis no jogo. No geral ficámos satisfeitos com os gráficos, mas o que mais impressionou foram os visuais ao estilo cinematográfico, que nos leva a crer que estamos dentro de um filme de terror, com uma sensação de imersão impressionante.
VEREDITO
Embora o tema não seja novidade, as histórias de zombies têm mantido um sucesso duradouro, ou não fossem exemplo os inúmeros títulos adaptados de videojogo para televisão ou cinema, e vice-versa, ao longo das últimas décadas. A saga Resident Evil nasce a partir de uma história de zombies, com elementos de horror e de sobrevivência, onde os heróis são desafiados a sobreviver a constantes vagas de inimigos mutantes que se atropelam para nos derrotar. Com mais de sete títulos e muitos spin-offs, a marca Resident Evil é um caso de sucesso no género, tendo revolucionado a indústria dos videojogos com a introdução de novas mecânicas e conteúdo único. A chegada do remake de Resident Evil 2, um dos maiores sucessos da saga, foi esperada com enorme ansiedade. Felizmente, a expetativa não foi defraudada, o que nem sempre é comum nos remakes de grandes sucessos. Apesar da história manter-se praticamente igual, o novo conteúdo e as mecânicas mais apuradas, fazem deste remake uma experiência completamente nova, algo que irá certamente agradar a todos os jogadores. Com gráficos melhorados, o jogo é mais sinistro do que nunca, com ambientes mais densos e inimigos mais realistas. Foi comum saltarmos da cadeira quando eramos surpreendidos com monstros que apareciam quando menos esperávamos, ou perdermos demasiado tempo com enigmas que nos desafiavam a paciência. Esta dificuldade foi apreciada, mesmo que tenhamos jogado no modo assistido, que nem sequer nos pareceu facilitado.
Apesar de todas as melhorias neste remake, há algo único em Resident Evil que nos faz continuar a jogar. Não se trata apenas de um tema comum em muitos jogos. A jogabilidade e a forma como a história é contada é algo que nos prende ao comando, um sentimento que já vem desde o primeiro jogo. Se em 1998, ano de lançamento da versão original de Resident Evil 2, já estávamos conquistados por este título, mesmo com gráficos inferiores aos atuais, a jogabilidade era algo única e fazia todo o ambiente parecer melhor do que realmente era, em comparação com a nova versão, que embora seja graficamente muito melhor, só confirma nem só de gráficos melhorados se faz um remake. Felizmente a Capcom soube aprender com a experiência anterior, no remake do primeiro Resident Evil, onde não introduziu grandes inovações além de melhores gráficos. Resident Evil 2 reúne quase todas as melhorias possíveis, elevando a genialidade do conceito a um novo patamar, e certamente mais um sucesso da produtora. Arriscamos dizer que este é o melhor Resident Evil de sempre, e que será um novo marco no género.