Patapon 2 é um divertido jogo com pequenas criaturas tribais que marcham ao comando de batidas de tambores, enquanto conquistam níveis e combatem perigosos inimigos. A série Patapon iniciou com o lançamento do seu primeiro título em 2007, em exclusivo para a PlayStation Portable. Publicado pela Sony Computer Entertainment, agora SIE, Patapon resulta da parceria entre dois estúdios, Pyramid e Japan Studio.
O sucesso do primeiro título levou ao lançamento de uma sequela que chegou poucos meses depois, em 2008, ao Japão e, um ano mais tarde, à Europa, também em exclusivo para a consola portátil da Sony. Com uma receção positiva pela critica, Patapon 2 manteve o espírito divertido, visuais melhorados e a mesma motivação viciante do seu título original. Com este sucesso, era previsível a chegada de uma nova sequela, que acabou por chegar em 2011, novamente em exclusivo para a PlayStation Portable.
No fim de janeiro de 2020 é lançada uma versão remasterizada de Patapon 2, desta vez, para a PlayStation 4. Esta análise refere-se a esta versão, a nossa apreciação e a adaptação à consola da Sony.
Patapon 2
A série Patapon combina uma jogabilidade única que mistura elementos de comando de tropas com o ritmo ou batidas. O título indica isto mesmo! Patapon é uma onomatopeia de duas palavras japonesas, ‘pata’ (marcha) e ‘pon’ (tambores). Com um visual cartoonesco, de silhuetas 2D, Patapon desafia o jogador a comandar tropas de pequenas criaturas tribais, através da percussão de tambores, enquanto marcham por níveis e defrontam vários inimigos.
No papel de líder dos Patapons, o jogador é encarregue de comandar os seus pequenos soldados para a batalha. Os Patapons são uma tribo de pequenos guerreiros que, para além de lutar, também adoram cantar e especialmente dançar. O jogador controla os patapons através da combinação de diferentes batidas, que podem originar diferentes ações. Por exemplo, se o botão do quadrado corresponde à batida “Pata”, e o botão do círculo corresponde à batida “Pon”, a combinação de Pata + Pata + Pata + Pon resulta na ação “avançar”, ou “marchar em frente” e, como resultado, as tropas de patapons avançam em frente no nível. De igual forma, a combinação de Pon + Pon + Pata + Pon permite dar uma ordem de ataque aos pequenos soldadinhos. Estas batidas têm de estar coordenadas com a batida de fundo do jogo, ou então os patapons não obedecerão aos comandos do jogador. As várias batidas obrigam a alguma destreza com o comando, e o DualShock 4 adequa-se perfeitamente.
Acertando as batidas repetidas vezes, e continuando constantemente no ritmo, é possível fazer combos que, chegando a certo ponto, colocam os patapons em estado de “Fever”, o que lhes aumenta as estatísticas de ataque e defesa. Em muitos níveis senti verdadeiramente a necessidade de ter os patapons em estado de Fever, e não cometer nenhum erro que os levasse a voltar ao estado normal. Se saísse fora da batida, tanto o combo que eu tivesse na altura, como o estado de Fever, seriam perdidos, o que me faria imediatamente perder uma enorme vantagem na batalha.
Outro erro que me poderia fazer perder os combos era a tentativa dar ordens de combate aos patapons que não fizesse grande sentido naquele momento. Por exemplo, imaginando que ordenei os meus patapons avançar e eles encontraram um obstáculo que necessitam de destruir para ultrapassar (por exemplo, uma rocha grande no meio do caminho), se eu os mandasse avançar, perderia o combo porque, naquele momento, o que devia ter ordenado era que eles atacassem para destruir a rocha.
Apesar de parecer algo simples, Patapon 2 coloca nas mãos do jogador a necessidade de efetuar um conjunto de decisões táticas em tempo real. Não é só um jogo de ritmo em que simplesmente nos limitamos a cumprir as batidas no momento correto. Exige-nos que façamos isso ao mesmo tempo que somos obrigados a decidir se a próxima melhor decisão das nossas tropas é avançar, recuar, defender ou atacar.
Se os soldados inimigos se preparam para um grande ataque, corro o risco de continuar a atacar, levando muito dano em resultado, ou então coloco os patapons em modo de defesa para evitar um autêntico massacre?
O jogo possui ainda outros elementos estratégicos, para além do pensamento tático em tempo real. Patapon 2 apresenta vários tipos diferentes de unidades. No inicio de cada nível, é pedido ao jogador que escolha a combinação de diferentes Patapons que irão compor o seu exército para esse mesmo nível. Esta é a primeira escolha estratégica que o jogador se depara. Será que levo os Patapons que atiram lanças, em vez dos que atiram flechas? Será melhor levar os Patapons que são tanques em geral, ou os que são mais resistentes ao elemento do fogo?
Ao longo dos níveis, os meus patapons vão recolhendo recursos que podem ser utilizados para criar ou melhorar diferentes tropas. É nesta altura que somos obrigados a uma nova decisão estratégica: Gasto os recursos que tenho atualmente para criar um novo tipo de Patapon, por exemplo um super tanque? Ou será que devo guardar estes recursos para melhorar as unidades de Patapon que andam a cavalo?
Patapon 2 é uma mistura elegante de elementos de jogabilidade que normalmente não vemos associados noutros títulos. É, na minha opinião, uma mistura que resulta muito bem. À medida que ia avançando num nível, sentia-me não só a vibrar com a música e as batidas, como também com a tomada de decisões estratégicas no momento certo. E sentia constantemente uma vontade irresistível de bater o pé ao ritmo do jogo, porque a música é francamente agradável e convidativa a isso mesmo.
A banda sonora revolve à volta de ritmos e batidas tribais (os patapons são uma tribo, afinal de contas), e acaba por ser tanto melhor quanto melhor a prestação do jogador. Não havia nada mais anticlimático do que ter os meus patapons em modo Fever, que é quando a banda sonora apresenta as batidas mais complexas e esteticamente aprazíveis, e de repente enganar-me num botão e a música acalma subitamente quando eu já ia lançado no ritmo. É uma sensação algo equivalente a estarmos a curtir imenso da nossa música favorita na rádio e, de repente, sem avisar, alguém muda para os Salmos que estão a passar na Canção Nova!
Em termos de grafismo, é um jogo relativamente simples. Os bonequinhos são adoráveis silhuetas de 2 dimensões, com traços e formas simples, mas de elevado contraste, que resultam bastante bem, tendo em conta a estética tribal que o jogo procura alcançar.
Pessoalmente, não só devido aos gráficos, como à própria escala do jogo, penso que Patapon 2 adequa-se especialmente a um ecrã pequeno. Jogar na PlayStation 4, com o jogo a correr num monitor de computador ou na televisão, não interfere na jogabilidade, mas diminui o que caracteriza este jogo – um pequeno jogo ao estilo easy-going, para ser jogado em qualquer altura, e em qualquer lugar. Afinal de contas, Patapon foi originalmente lançado para a PlayStation Portable e agora percebo que faz todo o sentido.
Veredito
Patapon 2 Remastered é um jogo que me apanhou bastante de surpresa. Comandar tropas de pequenas criaturas tribais enquanto executo um ritmo que se transforma numa composição musical, ainda por cima acompanhado pelos cânticos destes personagens, é algo que não estava à espera. Apesar da séria Patapon não ser recente, esta versão remasterizada ofereceu-me a oportunidade de conhecer um estilo de jogo que combina elementos estratégicos, com uma musicalidade contagiante, tendo revelado ser um jogo bastante divertido e que depressa me cativou. Apesar de podermos contar com a ajuda de três aliados, estes são completamente autónomos. O transporte de Patapon 2 para a PlayStation 4 levava a crer que o multiplayer estaria assegurado, algo que não veio a acontecer, o que é algo incompreensível, até porque o original de 2009 para a PlayStation Portable inclui este modo. Sem multiplayer competitivo ou co-op, jogar sozinho no ecrã da televisão acaba por ser um pouco despropositado. Este é um jogo perfeito para levar numa consola portátil, enquanto nos distraímos durante uma viagem, ou esperamos por um compromisso. Já no aspeto visual, enquanto a versão remasterizada podia indicar uma versão melhorada, as pequenas diferenças não parecem indicar uma grande evolução. Afinal de contas, o aspeto cartoon, com personagens miniatura desenhadas numa tela 2D, não dão grande margem a melhorias, tendo já um aspecto perfeitamente aceitável para o estilo de jogo. Por fim, apesar desta adaptação à PlayStation 4 poder ter sido evitada, só podemos compreender que se justifique pela facilidade de acrescentar ao portefólio de jogos disponíveis para a consola, mais um título que, apesar de simples, é um sério caso de sucesso que merece ser recordado, jogado e apreciado.