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Velocidade, grandes carros e muita adrenalina, são características que definem a já longa franquia Need for Speed (NFS). Com a nova edição Heat, a saga promete regressar mais ‘quente’ do que nunca – a Electronic Arts e a Ghost Games decidiram reunir nesta entrega, quase tudo o que já foi até hoje em edições anteriores. Além das habituais corridas ilegais ao estilo NFS Underground 1 e 2, os vários percursos diurnos oficiais ao género NFS Pro Street e Shift, e as perseguições loucas de NFS Most Wanted, o estúdio ainda arranjou espaço para um complexo sistema de personalização, inspirado no NFS Underground, novos modos online, e uma seleção de veículos de fazer inveja a muitos outros jogos. Desde Tuners, a Racers e aceleras, todos adoram o cheiro a gasolina e a borracha queimada, mas será que cabe tanta engrenagem dentro de um único jogo?

Saga Need For Speed
Saga Need For Speed. Imagem: DR

Perante uma oferta tão eclética de conteúdo, fomos perceber se a 24ª edição da saga Need for Speed, continua presa a um legado que poderá nunca conseguir repetir, ou se conseguiu modernizar-se criando um novo marco na história da franquia. Tentamos dar todas as respostas nesta análise, que nos levou desde o apaixonante e colorido universo Tuning, até às fugas da policia no submundo das corridas ilegais.

Need For Speed Heat

Need for Speed Heat

Sejam bem-vindos a Palm City, uma cidade criada ao estilo de mundo aberto, e fortemente inspirada na área metropolitana de Miami, nos EUA. Este destino quase paradisíaco esconde várias atividades clandestinas, principalmente durante a noite. Nas ruas, o eterno duelo de pilotos de corridas ilegais mantém-se vivo, mesmo perante uma força policial mais ativa do que nunca. Liderada pelo tenente Frank Mercer, esta polícia sem escrúpulos e a mais violenta de toda a saga, não irá poupar esforços para deter os pilotos que arriscam correr nas vias públicas da turística cidade de Palm City.

A par dos eventos menos lícitos, Palm City é também o coração de inúmeros eventos oficiais, como o Speedhunters Showdown, encontros entre Tuners, e corridas de drift. Mas a cidade não se resume apenas às áreas de asfalto, e desta vez podemos encontrar muitos locais de terra batida, relva e outras zonas que incluem rampas para saltos vertiginosos, radares de velocidade, e objetos destrutíveis ao estilo Burnout. Explorar esta magnifica cidade é apenas limitada pela perícia de cada condutor!

Need For Speed Heat
Need For Speed Heat. Imagem: DR

Nasce uma Estrela

Embora Need for Speed Heat tenha uma forte componente online, o grande destaque ainda é o modo campanha, que desta vez inclui a novidade de não estarmos forçados a um único personagem já decidido pela história. Ainda assim, no inicio do jogo, somos confrontados com uma série de personagens pré-definidos, de entre os quais temos de fazer a nossa escolha. Lamentavelmente, ainda não é desta que podemos criar um personagem de raiz, tão popular nos jogos mais atuais, principalmente naqueles com uma componente online. Sobre isto, NFS Heat traz ainda outra novidade, que descrevemos mais à frente.

Depois de escolhermos o nosso personagem, somos presenteados com um cinematic repleto de ação, que abre caminho para recebermos o nosso primeiro veículo. Aqui, temos à disposição quatro carros de ADNs bem distintos, e que definem os estilos de condução do jogo – corrida, estrada, drift e todo-o-terreno. No nosso caso optámos por um “escorregadio” desportivo japonês, Nissan 180SX, que nos pareceu perfeito para a tarefa. No entanto, existem muitos mais carros, e para todos os gostos, mas que só são desbloqueados quando chegamos a níveis mais avançados.

A escolha do melhor carro não será fácil! No total existem 127 modelos, incluindo híbridos e carros elétricos, de 33 fabricantes espalhados por 15 categorias diferentes, que fazem desta a lista mais completa e diversificada que já vimos num jogo Need for Speed. Entre tantas opções, há um carro lendário que sentimos a falta. Falamos do “modesto” e até subestimado Toyota Corolla AE86. Uma falha gravíssima na nossa opinião! Infelizmente parece não haver acordo entre a Toyota e a EA. Um tweet recente desvenda parte do mistério!

Need For Speed
Need For Speed. Imagem: Twitter

Brincadeira à parte, Need for Speed Heat incluí ainda alguns dos carros mais icónicos da saga, como o BMW M3 E46 GTR, o Ford F-150 Raptor, ou o Nissan Skyline GT-R. Mas a Ghost Games não parece ter ficado por aqui. Sabemos que existem planos para adicionar ainda mais carros através de Packs pagos após o lançamento. Obviamente, os veículos ainda não são conhecidos, mas o total pode acabar por ultrapassar os 149 carros da lista final do NFS Shift 2.

Escolhido o carro, regressamos ao procedimento habitual neste tipo de jogo. Todos os carros, modificações mecânicas, motores, personalizações visuais e até mesmo burlas a policias, custam dinheiro… muito dinheiro! O nosso objetivo é aumentar constantemente o saldo da nossa conta bancária, de modo a conseguirmos suportar a nossa progressão. Até aqui, a Ghost Games inclui algum realismo. Para ganhar dinheiro, devemos vencer as corridas diurnas. Mas, não basta sermos milionários. Se queremos crescer no mundo das corridas, também precisamos de fama. Esta chega em forma de reputação e respeito, algo conseguido através de corridas ilegais que podemos encontrar durante a noite, ou escapar da polícia com sucesso. A reputação faz com que o nosso personagem suba de nível, e nos dê acesso a novas peças, modificações, veículos e missões da campanha.

Need For Speed Heat
Need For Speed Heat. Imagem: DR

Modificação Total

Se ao inicio a lista de personalizações e carros nos pode parecer algo limitada, isto muda rapidamente assim que subimos de nível. Trocas de motor, melhorias mecânicas na suspensão, pneus, escape, até mesmo se queremos aspiração natural ou turbo, a seleção de modificações é enorme, e ainda nem sequer estamos a falar da parte visual! Também podemos configurar o nosso carro a pensar no estilo de terreno que vamos enfrentar. Uma boa combinação de pneus e suspensão fazem toda a diferença entre ter um ‘aspirador do asfalto’ ou uma máquina de saltos para a terra batida. Para uma experiência mais imersiva, apenas ficou a faltar uma escolha mais detalhada das peças, e não apenas uma descrição singela como passar do nível stock para Super ou Pro, sem qualquer descrição do que realmente muda no carro.

Antes de falarmos da personalização visual dos carros, devemos relembrar que este é o primeiro Need for Speed da saga a apresentar personagens que podemos escolher, como já foi referido. Como tal, o estúdio aproveitou para inserir alguns (ou muitos) cosméticos para os personagens. Temos à nossa disposição uma grande seleção de penteados, roupas e acessórios de moda, todos eles um pouco supérfluos se tivermos em conta que nem podemos criar um personagem de raiz?! É possível que a EA tenha planos futuros para adicionar ainda mais itens, principalmente tendo em conta o chamariz que isto é para o modo online e, parece-nos até que, é apenas esse o objetivo de toda a função, mas ficaremos à espera. Não é negativa a sua existência, mas também não melhora a experiência de jogo, tratando-se apenas de um detalhe engraçado.

De regresso aos carros, o Need for Speed Heat apresenta um sistema de personalização muito completo, talvez até o melhor até à data. Quase tudo pode ser alterado, numa lista de modificações tão ampla que inclui até as coisas mais estranhas, como a cor do nitro e do fumo dos pneus, ou o som do escape. Além de tudo isto, existe ainda um editor de design na forma de uma aplicação de telemóvel, na qual é possível desenharmos o carro dos nossos sonhos de uma forma descontraída e depois transportá-lo para o jogo.

Tal como em Forza, também podemos partilhar as nossas criações visuais com a comunidade, e até descarregar alguns dos modelos feitos por outros jogadores. A lista de modelos já disponíveis é muito grande, graças a uma comunidade enorme de jogadores. Como o sistema de personalização é, de facto, muito completo e complexo, as variações são quase infinitas. Os amantes do Tuning não podiam ficar mais satisfeitos.

Para completar o aspeto de personalização, a EA acrescentou ainda uma função muito interessante ao novo NFS. Ao contrário das restantes edições da saga, desta vez podemos ter companhia na nossa garagem, uma vez que partilhamos o mesmo espaço com outros pilotos reais, assim como as suas criações de quatro rodas. Um toque de classe que nos faz pensar que mesmo em single-player, nunca jogamos verdadeiramente sozinhos.

Corrida Gráfica

Num universo tão visual como o do Tuning, e o do automobilismo de uma forma generalizada, é óbvio que tínhamos de falar na parte gráfica do novo Need for Speed Heat. A nível de ambientes, Heat não é o jogo mais impressionante que temos visto, com um grafismo apenas acima da média. No entanto, no que toca ao que realmente interessa, os carros, a história muda completamente de figura. Todos os veículos que vimos apresentavam um grande realismo, e a enormidade de modificações possíveis assenta que nem uma luva neste nível visual. Com acesso a funções como pinturas metálicas, e detalhes em carbono, podemos construir maquinas muito atraentes, quase até mais bonitas do que seriam na vida real.

Need For Speed Heat
Need For Speed Heat. Imagem: DR

Parte da beleza de Need for Speed Heat passa também pela possibilidade de corrermos durante o dia e também à noite. Embora a EA tenha prometido um ciclo diário natural nesta edição, isso acabou por, em parte, não acontecer. O dia muda para a noite quando assim escolhermos ao sair da garagem, uma pena! A hora do dia faz variar os eventos disponíveis, e até as missões de campanha que podemos jogar, que além disso também dependem do nosso nível de jogador.

Sabemos que existem algumas queixas na Internet quanto a erros gráficos, mas na versão que testámos para o PC não tivemos qualquer problema. Com a combinação de CPU Intel i9-9900K e a placa GeForce RTX 2080, o jogo correu sempre fluido, mesmo utilizando as definições Ultra que a placa gráfica aconselhou, e sempre com um número de frames elevado. Para outras combinações de hardware, o desempenho pode variar, mas provavelmente não ao ponto de vermos erros ridículos. No caso das consolas não tivemos a oportunidade de testar.

No que diz respeito à banda sonora, a escolha musical podia ser um pouco mais do nosso agradado, mas a seleção é ampla e atual o suficiente para não comprometer a experiência. Entre músicas latinas, pop chiclete, ou outras, que pouca emoção dão aos jogadores mais geeks destas andanças, provavelmente uma escolha mais ao estilo Eurobeat ou Rock, de Most Wanted, teria sido mais adequado. Talvez a possibilidade de criar uma rádio própria, a partir de músicas no nosso disco, fosse bem-vinda.

Velozes e Furiosos

A jogabilidade de Need for Speed Heat é bastante acessível, tanto para novatos, como para os jogadores mais experientes da saga. A condução talvez seja um pouco menos ágil ou menos escorregadia que no clássico Need for Speed Underground 2, mas ainda assim partilha alguma da vertente arcade da experiência, e no bom sentido da palavra. Os carros passam uma enorme sensação de grip (tração), quase como se estivessem num carril, mas assim que tentamos derrapar tudo se altera, e embora os drifts sejam fáceis de controlar, esta mudança brusca necessita de alguma habituação.

Como Need for Speed Heat não tenta passar por um simulador, já não estávamos à espera de nenhuma jogabilidade cientifica, mas ainda assim mantém algumas características realistas, como a mudança de tração nos diversos terrenos, e a resposta do veículo aos saltos do piso. A experiência de condução também é fortemente influenciada pelos componentes instalados no carro, e pelos pequenos ajustes mecânicos que fazemos na garagem. Entre outras coisas, podemos ativar o controlo de tração, ou transferir o poder de travagem um pouco mais para algum dos eixos. Tendo isto em conta, não precisamos de nos preocupar muito com as diferenças entre estradas secas ou molhadas, porque neste aspeto a experiência é praticamente idêntica.

Menos realista é o aparente desequilíbrio da IA dos nossos adversários. Por vezes enfrentamos corridas bastante mais fáceis do que as anteriores, ou existe um adversário especifico que é muito mais habilidoso do que todos os outros na pista. Este último é bastante comum nas missões da história principal, que parecem funcionar como pequenos Boss que temos de ultrapassar, mas tornam-se menos interessantes quando existe uma concorrência NPC que simplesmente não tem qualquer hipótese de competir com estes sobredotados da condução. Talvez preferíssemos corridas individuais para o efeito, ou que todos os adversários exibissem essa destreza extra. Quando confrontados com estes seres divinos, só temos uma solução – atirá-los para fora da estrada no inicio da corrida!!

De uma forma geral, as corridas estão bem conseguidas, com uma injeção correta de adrenalina e uma física coerente nos carros. Ainda que não haja nenhuma recompensa ou penalização com manobras como o Drafting/Slipstreaming (aproveitar o cone de ar formado pelo carro à nossa frente), ou a destruição do meio ambiente, nem conferem qualquer vantagem extra, vale a pena navegar um pouco mais pelo mundo aberto se necessitarmos de completar algum desafio que inclua realizar estas tarefas.

Também nas perseguições policiais existe um aparente desnível. Ás vezes somos perseguidos de forma extremamente violenta, como se fossemos o Top 1 da Blacklist do NFS Most Wanted, e noutras alturas a policia parece desaparecer do nosso radar que nem magia. Como o nosso carro é muito frágil, é um pouco frustrante termos de esperar vários níveis até podermos desbloquear contramedidas, como encher pneus furados, ou Nitros extra. Também sentimos saudades dos antigos obstáculos (Pursuit Breakers) que nos permitiam aligeirar a perseguição. É óbvio que não é realista conduzirmos um carro indestrutível, mas com policias corruptos kamikaze por todo o lado, gostávamos de poder durar um pouco mais do que 5 minutos. Felizmente, tudo em Palm City tem o seu preço, e se não quisermos ter mais problemas, podemos sempre pagar um suborno ao policia que nos viu e continuar livres por mais uns quilómetros.

O modo online está neste momento um pouco “partido”, uma vez que as corridas acabam por ter um limite mínimo do carro para participar, mas não oferecem um limite máximo. Desta forma é frequente vermos pilotos com carros muito superiores ao esperado em corridas de nível muito baixo, e isso acaba por estragar o equilíbrio. Se uma corrida exige um nível mínimo de 130, não faz sentido que carros com um nível muito superior possam participar, não há teto máximo. Esperamos que a EA corrija esta deficiência em breve, para bem do modo online como um todo.

Need For Speed Heat
Need For Speed Heat. Imagem: DR

Veredito

O lançamento do novo Need for Speed Heat podia ter corrido muito mal. Com uma demo um pouco mal recebida durante a Gamescom, a atual fraca popularidade, muitas vezes injustificada, da própria produtora EA, e todo o saudosismo que evolve os antigos jogos de Street Racing da saga Need for Speed, existiam vários fatores para afetar a receção desta nova edição. Se juntarmos a isto o facto da Ghost Games ter decidido combinar elementos de quase todos os NFS produzidos até hoje, como as perseguições policiais, o Tuning, o Street Racing, os modos online e as corridas de circuito… a tarefa de agradar a gregos e a troianos parecia quase impossível! Foi só depois de finalmente experimentarmos NFS Heat que percebemos o excelente trabalho realizado neste megapacote de emoções!

É claro que Need for Speed Heat também tem os seus problemas. O modo online apresenta algum desequilíbrio nas corridas, o suporte para uso de volante e pedais também foi esquecido, a IA tem injeções de adrenalina por vezes inexplicáveis, e a física de condução também não é a mais realista, apresentando uma sensação de tração por vezes um pouco exagerada, ainda assim aceitável dentro do ADN da saga. Se em NFS: Underground ou Most Wanted conduzíamos autênticos sabonetes que deslizavam em cada curva, agora parece que andamos sobre linhas do comboio, com derrapagens por vezes exageradas quando entramos em drift. O estilo arcade continua lá, a diversão também, e acima de tudo, os carros continuam a ser o grande foco da ação!

Os elogios maiores recaem também sobre o sistema de personalização dos carros, que em Need for Speed Heat conseguiu atingiu um novo pico na saga, em certos pontos ultrapassando até o de Underground 2. A abundância de peças, cores, modificações visuais e veículos, tornam toda a aventura mais motivante, mesmo com o plot de campanha que parece ter saído de um blockbuster genérico de Hollywood. O grafismo também é de boa qualidade, principalmente nos carros, que foram espetacularmente recriados. Por tudo isto, Need for Speed Heat acaba por ser o melhor NFS que jogámos em muitos e muitos anos, e uma homenagem merecida a uma época em que o Tuning e o Street Racing dominavam os jogos de corrida. Com uma oferta tão vasta de conteúdo e de tão boa qualidade, é impossível ficarmos indiferentes a Need for Speed Heat.

Esta análise foi baseada numa versão para PC.