GRID (2019) é o culminar de uma série de videojogos de corrida automóvel, que não chegou aqui por acaso! Compreender as mudanças de nome, desde o primeiro lançamento da franquia TOCA até aos dias de hoje, pode tornar-se um ato de verdadeiro heroísmo, senão vejamos. Em 1997 surge TOCA Touring Car Champioship, o primeiro lançamento da Codemasters que recebeu louvores pela critica e que iniciou a franquia com um ícone que veio a ser considerado o melhor jogo do género, especialmente na PlayStation. Depois de vários lançamentos de novas edições nos anos seguintes, foi em 2008 que o nome mudou para Race Driver: Grid, deixando cair o nome TOCA que identificava a franquia. As mudanças não ficaram por aqui. Em 2013, a Codemasters anunciou a sequela, desta vez com o nome Grid 2, e em 2014 surge Grid Autosport. Agora, em 2019, a produtora resolveu baralhar ainda mais, com o lançamento da sua 10ª edição da franquia TOCA, intitulado GRID.
Esta nova edição marca o regresso às corridas de uma das mais longas séries de automobilismo digital, servindo também como um reboot para a sua própria subsérie, na qual representa o 4º titulo, cronologicamente falando. Com esta mistura entre um recomeço e uma continuação, a produtora espera conseguir agradar aos antigos fãs da série, ao mesmo tempo que convida os novatos a conhecerem um novo mundo da competição digital sobre rodas.
Feitas as apresentações, e mais baralhados do que nunca, equipamos-nos a rigor, e fomos preparar o nosso carro para enfrentar o desafio que este GRID de 2019 promete ser, ao mesmo tempo que tentamos perceber se estará à altura da concorrência, e do legado da sua própria série.
GRID
Se quiséssemos falar da história dos videojogos de corrida, não poderíamos deixar de referir o nome da Codemasters. Por ser responsável por franquias como Colin McRae Rally, F1 e, claro, a série TOCA, a produtora inglesa é já ela própria um marco no género. Como tal, podemos dizer que é já muito experiente nestas andanças, um facto que só torna ainda mais estranha algumas das escolhas tomadas para este novo jogo. Se regressarmos a 2014, e mais propriamente a Grid Autosport, o título que antecedeu esta edição, encontramos um jogo muito completo, repleto de pequenos detalhes, daqueles que nos fazem perder muito tempo a afinar cada ponto. Personalização de veículos, setups de corrida, paragens nas boxes para trocas de pneus e abastecimentos de combustível, modo de fotografia, gestão de patrocinadores… nada disto regressou. Em vez disso, a Codemasters decidiu voltar às origens e focar-se apenas no que para eles mais importou, as corridas.
De facto, tudo ficou tão básico no modo carreira, que este limita-se agora a um conjunto de corridas sucessivas que desbloqueiam as provas seguintes. Para compensar, temos acesso a um bom conjunto de pistas espalhadas um pouco por todo o mundo, onde se incluem alguns destinos já conhecidos na série, como San Francisco e Barcelona, além de novas entradas como a pista de Havana. O número total de pistas não é muito elevado, mas juntamente com diferentes layouts, mudanças de direção, as diferentes condições climáticas e horários das corridas, acabamos por ter uma grande variedade de percursos para atacar.
Uma Vista Rápida
O novo GRID destaca-se nos detalhes visuais das pistas, que apresentam um alto nível de qualidade, principalmente no que diz respeito aos percursos citadinos. Pistas como a de Xangai, com as suas luzes de néon durante a noite, ou a de Havana, com os seus edifícios característicos, são especialmente gratificantes de correr. O detalhe dado aos ambientes é de facto de aplaudir nesta edição, uma vez que até os efeitos da chuva, reflexos de luz, e a reação dos espetadores nas laterais da pista, que reagem a acidentes e choques próximos, foram trabalhados ao ínfimo detalhe, e conferem um maior realismo à experiência.
Tecnicamente, GRID apresenta uma apresentação cuidada, com uma realista sensação de velocidade durante as corridas, grafismo realista, e bons efeitos sonoros. Na PS4 também não sentimos qualquer problema de estabilidade no jogo, ou aparentes quebras na taxa de frames, o que nos leva a crer que esteja bem-adaptado nesta vertente. No PC a experiência poderá ser diferente, mas inteiramente dependente da potencia do hardware usado em cada computador. Também não tivemos oportunidade de testar um sistema completo de volante e pedais, mas o controlo com o comando é intuitivo o suficiente para não termos sentido a falta.
Muitos Carros
Sendo GRID um sucessor de TOCA Race Driver, não é de espantar a grande variedade de classes, modelos, e veículos que temos à nossa disposição. Além das clássicas categorias de Touring, Stock, Tuner, e a GT Series, existem ainda alguns eventos centrados na equipa do ex-bicampeão mundial de Fórmula 1 Fernando Alonso, que também ajudou a Codemasters como consultor, e eventos especiais por convite, onde temos de testar as nossas habilidades em carros predefinidos.
A lista de veículos é enorme para um jogo deste género, e podemos encontrar modelos para todos os gostos, desde o Nissan Skyline GT-R Group A (R32), aos Ford Mustang GT4, Mitsubishi Lancer Evo VI, Subaru WRX STI, e ate mesmo uma versão modificado do Aston Martin Vantage GT4. Até o carro de Fórmula 1 de Fernando Alonso, o Renault R26, entrou no jogo, e podemos mesmo defrontar o piloto espanhol diretamente. No final da corrida, apenas sentimos pena de nenhuma destas máquinas de quatro rodas ter realmente aparecido na nossa garagem na vida real.
Beleza Interior
Se os visuais dos ambientes são de alta qualidade, infelizmente não podemos dizer o mesmo do interior dos veículos. Existe alguma falta de detalhe nos cockpits e desenho dos instrumentos de cada carro, principalmente comparando com outros jogos da produtora, como o recente F1 2019. Este detalhe é facilmente esquecível quando começamos a acelerar. O som dos motores foi muito bem reproduzido, e com umas boas colunas ou headphones, é completamente percetível a diferença de volume conforme giramos o ângulo da câmera interior. O som das colisões também foi melhorado, e representa melhor que nunca o local do embate, embora visualmente o sistema pareça não funcionar assim tão bem.
O dano exterior dos veículos ainda não apresenta o nível de realismo de outros jogos, e temos de danificar muito o carro até sentirmos alguma diferença na condução. Os componentes também parecem ter um limite máximo para serem “partidos”, e depois disso tornam-se indestrutíveis, mas apenas para os nossos olhos. Nas opções, existe a possibilidade de escolhermos sofrer as consequências de um carro danificado, ou preferimos um carro “god like”, onde nem o melhor jogador de pinball consegue destruir o motor.
Personalização e Jogabilidade
Como já referimos, as opções de configuração são um pouco mais limitadas, quando comparadas com outros jogos da saga, e mesmo outros jogos dentro do género da mesma produtora. Ainda podemos ajustar as mudanças, a suspensão, os estabilizadores automáticos e a distribuição da força de travagem, mas apenas de forma superficial e com níveis pré-definidos. Na verdade, não achamos que seja necessário muito mais, principalmente a nível mecânico, uma vez que a própria física de condução tende mais para o estilo árcade do que de simulação.
Mesmo quando desligamos as ajudas eletrónicas, como o ABS ou o controlo de tração, a maioria dos carros ainda é de fácil condução, desde que tenhamos algum cuidado na aceleração. A sensação de condução é agradável, e embora não apresente a melhor qualidade que já vimos, está a um bom nível dentro do estilo.
Em relação aos modos de jogo, o novo GRID perdeu alguma diversidade em comparação com os seus antecessores. Já não estão disponíveis corridas de Drift, duelos de Touge pela montanha, corridas com pontos de verificação contrarrelógio, ou eventos de resistência com desgaste dos pneus. Os eventos resumem-se agora a corridas simples e de curta distância, onde lutamos para chegar à primeira posição. Para dar aos duelos individuais um pouco mais de dinamismo, em alguns eventos não competimos apenas contra um rival determinado automaticamente, mas também podemos atrair o descontentamento dos outros pilotos. Para isso basta que tenhamos empurrado algum dos carros com demasiada força, ou por vezes até menos do que isso. Como forma de vingança, esses pilotos vão perseguir-nos e até tentar abalroar o nosso carro.
Felizmente, na próxima corrida tudo é perdoado e esquecido, de modo que essas rivalidades representam apenas pequenos momentos de animação extra. Como em edições anteriores, todo o aspeto da equipa também é simulado, sendo, no entanto, um pouco supérfluo. À nossa disposição temos também o rádio, onde podemos perguntar sobre a nossa posição atual e a condição do carro.
Jogo em Equipa
Tal como antes, podemos escolher um colega de equipa a partir de uma seleção de pilotos, que é constantemente expandida por subidas no sistema de classificação. Os pilotos diferem em termos de lealdade, habilidades gerais de condução e o seu uso para ataque e defesa. Além disso, cada um deles é especializado numa classe. Quanto melhor for o candidato desejado, maiores serão os custos do contrato e dos prémios de corrida. Como não somos forçados a manter um piloto por muito tempo, podemos até trocá-los após cada evento. Se conduzirem bem, podem trazer algum dinheiro extra, mas limitam-se apenas a isso.
A gestão de patrocínios também já não existe. Agora, existe uma grande lista de objetivos que não se limitam apenas à conclusão de eventos de corrida, mas também incluem prémios em vários tipos de ações, como ultrapassagens, curvas sem choques e outros momentos da corrida. Infelizmente não somos avisados durante a corrida sobre a nossa progressão nestes objetivos únicos, de modo que não fazemos ideia se estamos perto de os concluir. Acima de tudo, uma boa condução é a chave para manter uma boa classificação, e a repetição de certos marcos, como ultrapassagens, é uma estratégia que confere maior retorno.
Este é mesmo um detalhe curioso, uma vez que o jogo parece de facto não compensar os jogadores mais eficientes. Um exemplo disso seria vencer a qualificadora, e, portanto, partir da primeira posição na corrida final. Como o nosso piloto ganha pontos por situações como ultrapassagens, duelos e perseguições bem-sucedidas, acabamos por evoluir menos o personagem se simplesmente dominarmos toda a corrida na primeira posição. Este facto não nos pareceu fazer grande sentido, e mostra talvez alguma distração da produtora neste detalhe. O nível geral de dificuldade é também bastante acessível, e mais uma vez abaixo do que experimentámos no recente F1 2019, mas isso sim, é apenas um detalhe.
Competição Online
Embora exista um item no menu para acedermos às tabelas de classificação, estas não são tão úteis ou precisas como esperávamos. Ao contrário de jogos como Forza Motorsport, os detalhes técnicos como o uso do ABS, controle de tração e estabilidade, ou o uso da função de rebobinar no tempo, não são marcadas na tabela e, portanto, os tempos de corrida não têm um grande significado ou equilíbrio. Também não podemos usar os “fantasmas” de outros jogadores para aperfeiçoar a nossa técnica, desafiar o tempo que conseguiram estabelecer, ou simplesmente aprender com os melhores.
O modo online permite que até 16 pilotos corram uns contra os outros, em corridas rápidas e de atribuição automática, ou criando um lobby privado no qual podemos definir as nossas próprias regras, como a classe do carro, número de voltas, e a possibilidade de retroceder no tempo. Infelizmente, não é possível jogar localmente com ecrã dividido, mas à falta de mais amigos, podemos sempre preencher as slots livres com pilotos da IA.
Veredito
Em GRID (2019), a Codemasters decidiu voltar ao essencial, que são as corridas. Com um modo carreira mais simples do que habitual, a experiência é compensada pela qualidade das pistas e a variedade de layouts e condições que podemos enfrentar. A enorme quantidade de veículos é também outro dos fatores que continuam a tornar este jogo mais interessante, sendo este o maior ex-líbris deste título.
Com menos modos que os seus antecessores, GRID também apresenta um menor foco na personalização mecânica. A ausência da gestão de patrocínios, em detrimento de um sistema de recompensas, parece-nos menos motivante para o jogador, mas talvez seja o mais adequado ao estilo árcade da sua jogabilidade. No aspeto visual e técnico, podemos elogiar os ambientes e a sonoridade dos motores, que estão a um nível bastante superior do que a atenção dada aos interiores dos veículos, que ficou aquém das expetativas.
O novo GRID pode não ser a derradeira simulação de condução, nem pretende ser, mas com ambientes muito atrativos e um portefólio considerável de veículos para conduzir, continua a ser uma aposta muito compensadora para todos os jogadores que procuram uma experiência mais direta e sem a enormidade de configurações e detalhes de outros títulos. GRID é para amantes do automobilismo.
Esta análise foi baseada numa versão para PlayStation 4.