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O maior simulador de futebol e gestão desportiva está de volta com mais uma edição da já icónica saga japonesa Pro Evolution Soccer, este ano com um novo nome – eFootball PES 2020. Durante anos, os fãs habituaram-se a utilizar a sigla PES como referência à série, e a Konami não quis perder esta herança, mantendo a icónica sigla, acrescentando o nome eFootball como parte da sua nova aposta no mundo dos eSports. Para a empresa, o jogo não mudou, nem esta mudança de nome significa uma nova alteração na marca. Mais do que uma estratégia de rebranding, importa perceber quais, de facto, são as novidades da edição 2020.

O esforço da Konami por adquirir licenças desportivas para o PES já dura há alguns anos, nesta temporada, esse esforço parece ter chegado a novos patamares. Perante uma aparente supremacia da série FIFA, como pode o PES continuar a destacar-se? Com várias licenças para as ligas sul-americanas, e uma espécie de “Bundesliga” com apenas três clubes (Bayern, Schalke e Leverkusen), o PES 2020 ainda complementa a oferta com as ligas turca, portuguesa, as duas ligas inglesas inferiores à Premier, e a segunda liga espanhola e italiana.

Este ano a Konami também fez uma parceria com a UEFA, para tornar o eFootball PES 2020 (ou PES 2020) o videojogo oficial do próximo EURO 2020. Um DLC gratuito vai adicionar mais de 50 equipas nacionais no próximo ano, incluindo os jogadores reais, camisolas e brasões das federações. Além disso, não podemos esquecer as “parcerias oficiais” com clubes individuais, incluindo o FC Barcelona, ​​Celtic Glasgow, Inter, AC Milan, Arsenal e Manchester United, mais a adição de 23 ligas originais e 31 estádios, além das 20 arenas fictícias. De facto, todo este conteúdo é uma novidade bem-vinda à serie PES, que luta por alguma ‘oficialidade’ já há alguns anos. Mas será suficiente?

eFootball PES 2020

eFootball PES 2020

O facto da Juventus estar exclusivamente representada no PES, e não estar presente no novo FIFA 20 é, sem dúvida, o maior sucesso da Konami até agora. Afinal de contas, o campeão da Serie A italiana é um dos clubes mais badalados dos últimos tempos, graças, em parte, à recente forte aposta do clube na contratação de grandes nomes, como Cristiano Ronaldo, tornando-se certamente um dos grandes europeus a par dos principais clubes das ligas inglesa e espanhola. No entanto, tal como no futebol jogado no campo, não é dos nomes que se fazem os resultados, e no fim de contas, as vitórias, e neste caso a jogabilidade, grafismo e os detalhes técnicos, é que podem, ou não, dar algum destaque ao eFootball PES 2020.

eFootball PES 2020
eFootball PES 2020. Imagem: DR

O PES já foi a grande estrela que superava todos os outros jogos de futebol, e essa posição chegou a parecer inevitável. Este domínio era sustentado pela mecânica de jogo, que durante muitos anos a concorrência tentou copiar, mas sem sucesso. O acumular de algumas edições vazias e sem novidades de relevo, e talvez devido à cada vez maior valorização das licenças e do realismo da aparência dos jogadores, fizeram com que perdesse a ribalta. Um certo modo ‘Ultimate’ online com cartas, pode também ter contribuído fortemente para a inversão final dos papeis e, hoje em dia, o PES já não brilha como antigamente, seja para os jogadores mais árcade, como para os amantes dos eSports, uma área que em tempos poderia ter dominado graças à sua superior jogabilidade.

Acima de tudo, os japoneses parecem ter estagnado em muitos níveis durante demasiados anos, e até copiaram a concorrência, especialmente no que diz respeito à corrida por licenças, e no lucrativo modelo de negócios das microtransações, presente no modo myClub. Em vez de ouvirem mais os fãs, erradicarem as suas próprias fraquezas e tornarem-se inovadores, a Konami resolveu correr atrás do prejuízo, ou do Ultimate Team. Parte dessa estratégia é compreensível. É um negócio que faz correr muito dinheiro, um bem necessário para melhor desenvolver a saga, e até para adquirir licenças, mas um pouco de inovação seria também importante. Com o novo nome eFootball PES 2020, a fasquia parece mais do que nunca apontada para os eSports, mas por vezes as aparências iludem.

Superioridade em Campo

Como já referimos, a saga PES sempre foi reconhecida pela sua superior jogabilidade, tanto a nível de controlo de bola, como no que diz respeito a passes e posicionamento. O grande foco do PES sempre foi o de atingir um estilo de jogo fluido e o mais realista possível. Historicamente até mais próximo de um “simulador” do que o seu concorrente FIFA.

Este ano essa identidade é ainda mais óbvia, especialmente quando levamos a equipa para o ataque durante uma partida. A “inspiração” em áreas como passes curtos ou dribles, garante uma nova habilidade a certos jogadores especiais. Os outros jogadores vão adaptar-se a esse “Maestro” ou “Estrela” do campo, e posicionarem-se automaticamente de acordo com os seus passes, criando assim espaço para desmarcações ou bloqueando a progressão dos adversários.

Este recurso parece melhor em teoria do que na prática, porque no fundo, tudo se resume à forma como a IA reage nas proximidades de um certo jogador, e tudo isto de forma automática. Não existe qualquer interação do jogador com os colegas, ou controlo da nossa parte. Embora ainda básico, é uma boa ideia que a IA se possa adaptar a estilos diferentes de jogadores, e não esteja dependente apenas das táticas de grupo. Não existiam mudanças de fundo no PES há já muitos anos, e qualquer pequena inovação é muito bem-vista da nossa parte.

Um pouco mais difícil de perceber é o facto da Konami não explicar qualquer uma das novas funções com exemplos de jogo, limitando-se a apresentar pequenos vídeos explicativos. Seria bem mais fácil de aprender as novidades em pleno relvado virtual.

Elegância de Movimentos

O novo Finesse Dribble veio reformular todo o sistema de fintas do eFootball PES 2020, podendo transformar qualquer jogador num pequeno Messi ou Ronaldo. O analógico direito ganhou ainda mais importância quando temos a posse de bola. Quando o seguramos numa direção, o jogador terá um maior controlo sobre o esférico e, combinado com uma mudança de direção utilizando o analógico esquerdo, ou pressionar duas vezes o botão de corrida, permite enganar os adversários de forma muito intuitiva.

Também existe um controlo sem toque, onde apenas tocar no manípulo analógico direito no momento certo faz desencadear uma simulação. Provavelmente não veremos muitos destes truques exibidos no modo online. Aqui, as partidas são bem mais intensas, e a pressão sobre o portador da bola é tão rápida que não teremos tempo para afinar as habilidades artísticas. No entanto, vão existir sempre aqueles jogadores que o farão parecer fácil, tal como os artistas dos campos reais.

Por fim, existe também um novo passe finta, que quando utilizado dentro da área, permite partir a linha defensiva e deixar a bola em posição perfeita para a finalização de um avançado. Após ativar o remate ou passe, temos de pressionar rapidamente o triângulo e levar o stick analógico na direção desejada para executar um passe seco e em jeito, que rompe pela cadeia de defesas, e que idealmente, atinge a posição do avançado que se desmarca. Quando um destes passes funciona a sensação é muito boa, e geralmente dá em golo!

Um Novo Ritmo de Jogo

Todas estas mudanças são bem sentidas em campo. Os jogadores já habituados ao PES 2019, vão precisar de repensar um pouco o seu estilo de jogo, porque a velocidade mais lenta, e a mecânica de passes mais propensa a erros, exige ainda mais concentração. Tendo em conta o legado da saga, esta é uma mudança que nos parece positiva. A melhorada IA também não facilita perante qualquer espécie de Tiki-Taka, nem fica a dormir perante as nossas quebras de ritmo. Passes longos e rápidos também continuam a apresentar um risco maior de falharem ou serem intercetados.

Isto é bom para a profundidade do jogo, porque coloca a dificuldade numa nova fasquia, e permite um jogo de construção mais satisfatório. A nova câmera de estádio captura a experiência com perspetivas um pouco mais dinâmicas, com a pequena desvantagem de certos ângulos mortos aqui e ali. Se não gostarmos, podemos sempre ativar a antiga grande angular ou outra que acharmos mais adequada.

A nível visual, o novo PES também marca golos, e alguns dos jogadores são mesmo cópias exatas das suas versões reais. Jogadores como Ronaldo, Griezmann ou Messi, recebem sempre um tratamento especial, no entanto, nem todos são bem-adaptados, e o plantel do Bayer que o diga. De qualquer forma, o grafismo é de alto nível, tanto nos ambientes como nos modelos de jogadores.

Se jogaram a demo, a versão final parece completamente diferente em algumas áreas, especialmente em termos de árbitros, faltas e colisões. O andamento geral também aumentou, tornando o fluxo de jogo mais frágil, porque a bola troca de posse muito mais rapidamente.

Problemas de Crescimento

A versão final do novo PES apresenta menos interrupções, e por vezes até um pequeno caos característico de certos jogos. Existe, no entanto, um ligeiro problema de equilíbrio, e certas arbitragens são mais bem conseguidas do que outras. Não temos a certeza se é algo propositado ou um erro do jogo, mas certamente é credível.

Certo é que esta mudança chega num ano em que o futebol parece mais físico do que nunca na história do PES. O tamanho e o peso desempenham um papel importante, principalmente para quem é empurrado ou bloqueado, sendo também relevante para as recuperações de bola. Quando um jogador, por exemplo, leva com um remate na cabeça, ou uma bola no estômago, ele também reage em dor e cai no terreno de jogo. Isso fornece algumas cenas realistas, quando um gigante como o Pogba empurra um jogador aparentemente mais franzino como o Kimmich, mas pode ser também um pouco cómico em algumas colisões.

eFootball PES 2020
eFootball PES 2020. Imagem: DR

A nova física mais exigente também faz sofrer a IA, que se comporta de uma forma mais realista ao ter de lidar com ressaltos constantes. A bola não se cola simplesmente ao pé, mantendo uma posse sempre perfeita do esférico. Infelizmente, este realismo teve um preço, e já há muito tempo que não víamos tantos autogolos seguidos.

Existem também pequenos erros na deteção da bola. Quando esta faz ricochete num jogador, por vezes o jogador seguinte parece ignorar a sua nova posição, e falha o domínio, mesmo que a curta distância. Estes problemas obrigam a alguma correção manual, e quebram o ritmo e fluxo de jogo.

Campo de Tiro

Se a nova mecânica de ressaltos pode tornar as bolas paradas, como cantos ou lançamentos, um momento um pouco confuso, existem situações onde isso não acontece. Falamos nomeadamente dos livres diretos. Além da IA parecer mais eficaz do que nunca na marcação deste tipo de cobrança de falta, também para nós é mais recompensador investir num especialista, como deBruyne ou Ronaldo. Os livres são de facto muito perigosos, e a taxa de golo na marcação parece muito maior.

Por falar em remates de longo alcance, os disparos de fora da área também foram melhorados. A nova habilidade de alcance faz com que jogadores como Toni Kroos ou Bruno Fernandes aumentem o marcador mesmo a grande distância da baliza.

Os controlos também foram ligeiramente ajustados, e alguns erros com ordens em simultâneo já não bloqueiam completamente os movimentos. De qualquer forma, a Konami podia repensar alguns dos automatismos ainda presentes. Devíamos poder escolher quando proteger, ou não, a bola com o corpo, ou o ângulo de um lançamento lateral. De forma genérica, a mecânica ainda parece algo desequilibrada, com movimentos automáticos que contrastam com outras mecânicas obrigatoriamente manuais e complicadas.

eFootball PES 2020
eFootball PES 2020. Imagem: DR

Na defesa, o combate manual parece-nos uma pior opção do que simplesmente escolher passivamente um jogador e recuperar a bola através do controlo automático de pressão. Juntamente com uma boa tática, a própria IA defende a nossa baliza de uma forma eficaz, pelo menos contra outros NPCs, de tal forma que quase nos sentimos uns espectadores.

Uma nova Master League

Este é, pelo menos para nós, um dos modos mais interessantes do PES, pelo que ficamos entusiasmados com a renovação que a Konami prometeu. Sendo este um espaço que mistura, desenvolvimento de jogadores, transferências, táticas, gestão, e até história, é provavelmente o maior foco de longevidade do jogo fora do universo online.

Infelizmente, a Konami não entregou o novo PES com os plantéis atualizados à data de lançamento, e apenas dois dias depois pudemos ter acesso às listas oficiais de jogadores de cada clube. Não conseguidos perceber a razão desta demora. Uma vez que a distribuição online é tão poderosa nos dias que correm, e também muita gente compra o jogo fisicamente logo nas primeiras horas. Por este motivo, seria lógico termos acesso ao jogo atualizado desde o inicio. Algo parece ter falhado neste ponto.

Mais importante do que a estranha política de lançamento é o conteúdo. Neste modo Master League podemos personalizar o nosso próprio modelo de treinador, ou jogar utilizando um treinador da vida real como avatar. Incluídos na lista estão Zico, Cruyff e até Diego Maradona. A Master League agora inclui um novo sistema de diálogos interativos que afetam a história, e também um sistema de transferências mais realista.

Mesmo que a liderança do clube seja agora mais rigorosa, principalmente após as derrotas, e até possamos sofrer consequências dependendo do que dissermos nas conferencias de imprensa, não deixamos de ter a sensação de que a Konami apenas investiu o suficiente para dar uma nova cara ao modo Master League, sem nenhuma inovação realmente marcante.

eFootball PES 2020
eFootball PES 2020. Imagem: DR

Conferências Interativas

Outra das novidades especificas deste ano são as conferências de imprensa interativas. Independentemente do clube que escolhermos, teremos várias opções possíveis para responder aos jornalistas, que vão desde a descrição do nosso estilo de jogo, até comentários específicos sobre um ou outro jogador. As questões são um pouco básicas, e não mudam profundamente a experiência já existente neste modo de treinador. Aplaudimos a iniciativa, mas não impressiona.

Existe um novo destaque dado aos derbys, e jogos contra clubes rivais. Os adeptos vibram mais nestes jogos, e tanto os nossos jogadores, como as da IA, parecem correr mais e viver mais intensamente a partida. Ficaram a faltar apenas algumas cenas de interação entre treinadores rivais, alguma troca de ‘bocas’ na imprensa, para tornar toda a competição mais emocionante.

Para tornar tudo mais realista, os valores das transferências e salários foram alterados, e assemelham-se agora um pouco mais com o louco mercado que assistimos nos dias de hoje. No entanto, é uma pena que quando surge algum rumor de transferência não possamos conversar diretamente com o jogador.

Design e Jogabilidade

O design dos menus mantém-se simplicista, apresentando agora as cores do clube selecionado, um pouco como já acontece em jogos como o Football Manager. Por outro lado, a nível de interface com o utilizador, o PES tem ainda alguns pontos a melhorar. Não é muito fácil pesquisar temas nas notícias que recebemos, nem temos forma direta de chegar a um jogador mencionado ou equipa, e mesmo os dados estatísticos são algo confusos de consultar.

Como já referimos, a IA recebeu algumas melhorias, e agora explora melhor as nossas fraquezas. Equipas com química baixa terão especial dificuldade em fazer conectar passes, e mesmo comparando diretamente à edição do PES 2019, é notória uma maior dificuldade em níveis de exigência iguais. De qualquer das formas, conforme a química da nossa equipa sobe, essa exigência deixa de ser notada com tanta intensidade, e os passes tornam-se mais fáceis de novo.

A súbita pontaria certeira de jogadores com notas teoricamente baixas, mantém-se de edições anteriores, o que demonstra ainda alguma falta de balanceamento neste aspeto, mas é algo com que podemos viver.

A lotaria do myClub

Não podíamos deixar de falar do modo de maior longevidade, e também provavelmente aquele que será o mais jogado neste novo eFootball PES 2020. No modo myClub somos convidados a construir a nossa equipa de sonho, através de pequenos sorteios de jogadores. Para melhorar a equipa não basta ter todos os nomes mais sonantes, é preciso também ter em conta a química da equipa, olheiros, treinadores, condição física, e de tudo um pouco. Todos estes detalhes exigem créditos de jogo ou moedas para manter, que podemos ganhar dentro do jogo ou comprando com dinheiro real.

eFootball PES 2020
eFootball PES 2020. Imagem: DR

Na verdade, pouco ou nada mudou aqui. O sistema convida-nos a investir dinheiro real para adquirirmos as vedetas que precisamos para singrar nas ligas virtuais. Afinal, uma equipa de baixa química terá muitas dificuldades em prevalecer. As microtransações vieram para ficar, e são hoje uma das maiores (senão a maior) fonte de rendimento das produtoras, pelo que não nos surpreende a aposta, mas não deixa de ser mais da mesma equação.

VEREDITO

Foi a própria Konami quem elevou a fasquia para esta nova edição. Com um novo nome, promessas de inovação, um marketing um pouco mais agressivo do que o habitual, e com mais licenças, tudo parecia indicar que o eFootball PES 2020 ia ser um marco para a saga. De facto, e à primeira vista, o novo PES apresenta mais inovação num único ano, do que a série tem apresentou nos últimos cinco. Isto só por si já é algo positivo, mas a Konami esqueceu-se de algo mais importante, o equilíbrio.

Além das mudanças nas arbitragens, a nova física de bola parece ainda não estar completa. É interessante que a bola possa ressaltar em novos locais do corpo, mas os jogadores ainda não reagem bem a essa imprevisibilidade, e criam situações quase cómicas dentro do relvado. As novas fintas e controlo de bola apimentaram a elegância de movimentos do jogo, mas a ausência de um tutorial ou explicação em campo, faz com que esta novidade quase passe despercebida.

As novas funções no modo Master League são bem-vindas, mas até aqui algo parece faltar. As interações são demasiado simples, e os menus ainda não competem com os de jogos mais especializados na simulação de treinador. O myClub em pouco ou nada mudou, e apenas continua a ser a versão da Konami para o Ultimate Team.

A jogabilidade continua a ser a forte arma do PES, e este ano pode ter iniciado o caminho para se tornar ainda melhor no futuro, ao introduzir uma nova física de bola, que infelizmente para já, ainda não é boa que chegue para coroar o rigor tático e de passes que a saga nos tem habituado. Como a mudança de nome poderia sugerir, o eFootball PES 2020 não veio reinventar o género. No entanto, mantendo as qualidades que já conhecíamos da saga, e acrescentando alguns pontos interessantes, continua a ser bom que chegue para competir com a sua concorrência.

Esta análise foi baseada numa versão para PlayStation 4.