O clássico videojogo de futebol da Electronic Arts está de volta para mais uma edição anual, mas desta vez com outro nome – EA Sports FC 24. Por razões que explicamos mais abaixo, o novo nome quer dizer uma nova apresentação, com a promessa de que a oferta será superior às edições de anos anteriores. Mas será que o novo FC 24 cumpre com o prometido? A nova imagem irá impressionar os novos jogadores e os fãs mais veteranos de uma das sagas de maior sucesso da indústria? Será este o inicio de um novo caminho vencedor? As novidades técnicas acompanham a mudança estratégica? Ou, por outro lado, a EA colocou-se numa situação difícil que pode comprometer a liderança do mercado?
Para responder a esta e a outras questões, pegámos nas chuteiras e fomos para dentro das quatro linhas, no novo FC 24.
EA FIFA FC 24
Como parece óbvio para toda a gente, o EA Sports FC 24 continua a ser o sucessor direto do FIFA 23, mas a escolha do nome não foi apenas uma estratégia de marketing.
No inicio do ano a Electronic Arts (EA) e a FIFA decidiram seguir caminhos separados. Segundo consta, a FIFA pediu um valor exorbitante para renovar a licença por mais quatro anos (algo como mil milhões de dólares), e a EA considerou o valor exagerado. Afinal de contas a licença apenas servia para poder usar o nome da federação nas capas – as quatro letras, ou seja, 250 milhões por letra! Como tal, este ano não teremos um FIFA 24 (pelo menos da EA), mas sim o novo EA Sports FC 24, demonstrando um rompimento de relações com a organização mundial de futebol. Se esta posição da EA vai permanecer para os próximos anos, não sabemos, mas para já, a interrupção do uso do nome FIFA na icónica saga é um facto, algo que nunca tinha acontecido desde o primeiro lançamento – FIFA International Soccer, em 1993.
Com esta nova fase, parece adequado que Haaland seja a estrela da capa, substituindo Kylian Mbappé, cuja imagem foi prejudicada (entre outras coisas), pela sua relação inconstante com o Real Madrid. Haaland será a cara de um futebol moderno que a EA Sports quis aproveitar para o visual renovado que pretendeu dar a este FC 24.
Mesmo com o fim da licença FIFA, a EA manteve parceria com a maioria das ligas, equipas, jogadores, marcas de equipamentos, e tudo o que possas imaginar, pelo que dentro do jogo pouco se altera. No entanto, tendo em conta o legado do nome da saga, seria impossível não referirmos este acontecimento. De fora parece ter ficado apenas o Campeonato do Mundo de seleções, uma competição organizada oficialmente pela FIFA, algo que não acontece com as várias ligas nacionais e campeonatos continentais, como a Champions League organizada pela UEFA ou a Copa Libertadores organizada pela CONMEBOL.
Análise EA FC 24
Agora que ultrapassámos a mudança de nome, vamos ao que realmente interessa, ao futebol virtual. Nesta análise, vamos avaliar o desempenho, as novidades e o que deixou de ser feito no novo lançamento da Electronic Arts. E, uma vez que a editora não é novata nestas andanças, a exigência será um pouco maior!
Depois dos ecrãs introdutórios, somos levados a um menu reorganizado. Os modos de jogo são listados à esquerda (o modo jogado mais recentemente aparece sempre no topo), enquanto Haaland executa alguns remates e truques na parte direita do ecrã. O design é limpo e funcional em todo o jogo. Não há mosaicos irritantes ou informações redundantes, embora o destaque dado ao avançado do Manchester City seja um pouco exagerado.
Nos jogos, a boa impressão continua. O motor Frostbite foi revisto novamente. Todas as animações parecem mais fluidas, os equipamentos apresentam dobras nos tecidos de forma natural e a iluminação foi aprimorada, realçando ainda mais a atmosfera genial dos estádios.
Felizmente, os rostos parecem muito mais realistas do que o elenco assustador na capa da Edição Definitiva, e já se aproximam bastante das verdadeiras estrelas da bola.
Mais Animação
Já falámos de algumas melhorias interessantes em relação às edições anteriores. Mas há mais novidades! As novas cenas cinemáticas antes e depois dos jogos, bem como durante os intervalos, permitem uma visão dos bastidores. Por exemplo, podemos ver o balneário e desfrutar de um rápido passeio de câmera pelas bancadas até ao túnel de acesso dos jogadores. No campo, também há novas animações, como jogadores que se juntam após uma falta mais dura ou um cartão vermelho, por vezes até na perspetiva do árbitro quando exibe a cartolina.
No entanto, a apresentação do FC 24 não é perfeita. Como nos jogos FIFA dos últimos anos, ainda podem ocorrer animações estranhas, interrupções de áudio e colisões ridiculamente engraçadas (embora com menos frequência). Se o objetivo passava por manter alguns destes bugs, pelo menos podiam reconhece-los como oficiais – “It’s not a bug, It’s a feature!!” Não só tornava o jogo mais divertido, como podíamos colecionar e partilhar momentos caricatos, servindo também como uma desculpa para nunca terem sido corrigidos numa saga com mais de 30 anos.
Um bug especialmente aborrecido é aquele que continua a alterar as configurações do jogo nas opções. O facto deste problema manter-se desde o FIFA 22 não fica bem para a imagem de um estúdio com a experiência da EA Sports.
Infelizmente, ao mergulhar nos modos de jogo, que são quase idênticos aos do FIFA 23, a desilusão chega rapidamente. Independentemente do modo preferido, as inovações são novamente apenas ligeiras e difíceis de encontrar.
Um Ultimate Team Misto
No modo Ultimate Team, a maior mudança é a inclusão das jogadoras. Embora as mulheres já estivessem presentes no FIFA 23, a novidade é que agora podem jogar numa equipa mista com os homens, e mostrar a alguns deles como se joga. A EA não fez por menos! Existem cartas de algumas jogadoras com desempenhos que claramente ultrapassam a realidade, muitas delas mostrando mais habilidade para o futebol do que alguns dos melhores jogadores do mundo.
A questão que se põe à EA é esta; A introdução das cartas de jogadoras foi por motivos de inclusão? Ou houve algum outro objetivo que justifique um desempenho desproporcionado de algumas jogadoras? Não estamos contra esta novidade, que até nos parece divertida. Compreendemos que estas cartas tenham de ser melhoradas para serem atrativas à compra, mas a EA, ao fazer isto só está a demonstrar que as jogadoras precisam de uma ajuda extra, caindo por terra o propósito da inclusão e da igualdade de géneros. Muito confuso!
Também é verdade que não existe futebol misto no mundo real, o que torna algo estranha esta opção da EA. Se tivermos em conta que o FC 24 não é um simulador, logo não tenta imitar o mundo real, tudo é compreendido. No mundo dos jogos arcade o realismo é apenas ficção. Qualquer dia estamos a ver o Robocop e o Son Goku a disputar uma bola. Temos a certeza que seriam cartas muito populares.
Depois de jogarmos algumas partidas, foi frequente assistirmos à vedeta Erling Haaland falhar alguns remates fáceis quando segundos depois a goleadora Sam Kerr finalizou com facilidade e com laivos de mestria. A taxa de sucesso chegou a ser de 5 golos em 6 remates para a australiana. Muito impressionante!
Uma novidade interessante é que algumas cartas dos jogadores podem ser modificadas e melhoradas. Não são todas, mas aquelas que cumprem certos critérios vão ter a oportunidade de aumentar os atributos e outros parâmetros, como o pé fraco ou a adequação de uma carta para uma posição específica.
As mecânicas Pay2Win continuam presentes, e agora a EA nem pode desculpar-se com as supostas pressões da FIFA ou com os altos custos de licenciamento. Como bem sabes, as melhores cartas rendem mais em campo, e a velocidade total da equipa é alterada pela sua presença. O crossplay entre consolas da mesma geração é a cereja final no topo do bolo, uma vantagem para jogar com os amigos.
Modos de Jogo
Para além do que falámos no Ultimate Team, poucas mudanças foram feitas nos restantes modos, mas vamos tentar resumir cada uma delas:
No modo Clubs (antigo Pro Clubs), que permite controlar apenas o nosso jogador criado numa equipa de até 11 contra 11, aqueles que desejam construir um clube com outras pessoas têm agora muito mais opções. Entre elas, está a criação de temporadas no sistema de ligas com playoffs e um sistema de aumento da popularidade. Quanto mais popular for o teu clube, mais receita ele terá e maior será o estádio. Infelizmente, este modo ainda apresenta alguns problemas de estabilidade.
No modo Volta, a variante do futebol de rua inspirado no FIFA Street, encontramos partidas divertidas e minijogos empolgantes, mas ainda não é um substituto adequado para um suposto modo de futsal. Não notámos nenhuma alteração significativa.
O modo Carreira de Jogador dececiona pela falta de inovação e pelos objetivos pouco realistas. A única novidade é que agora podemos contratar um agente para nos ajudar a alcançar metas de longo prazo e garantir que o clube dos teus sonhos sabe que existes. O Ballon d’Or, a recompensa suprema para um jogador, é uma boa adição, mas insuficiente para um modo que precisa de se reinventar.
No modo Treinador, agora é necessário montar uma equipa técnica completa, com treinadores para cada posição. A adequação dos treinadores é baseada no conceito tático geral que escolhemos para a nossa equipa entre sete variantes (Padrão, Tiki-Taka, Contra-ataque, Pressão alta, Jogo pelas laterais, Remates de longe e o chamado Estacionar o autocarro). Cada treinador apresenta 1 a 5 estrelas nas categorias Ataque, Meio-campo, Defesa e Guarda-Redes, logo quanto mais estrelas a equipa tiver numa categoria, melhor será o treino dos jogadores nessa categoria.
As antigas sessões de treino foram eliminadas. Agora, antes de cada jogo, é apresentado um exercício que permite melhorar uma característica da equipa que será utilizada nesse mesmo jogo, como o Drible, Remate ou Cabeceio – uma espécie de aquecimento tático. Desta forma, podemos explorar as fraquezas do adversário ou neutralizar os seus pontos fortes. Por outro lado, a aptidão física e a agressividade são influenciadas por um controlo deslizante. Uma boa decisão que economiza algum tempo.
Outras otimizações incluem oportunidades de contra-ataque após ações defensivas bem-sucedidas e a capacidade de acompanhar um jogo a partir do banco de suplentes.
Se quisermos treinar a seleção, somos obrigados a treinar um clube ao mesmo tempo, não podendo apenas ser selecionador. Esta é uma contrariedade que se mantém também neste FC 24.
O crossplay está disponível desde o inicio para todos os modos multijogador. No entanto, as “gerações” devem permanecer separadas. PS5, Xbox Series X/S e PC jogam juntas, assim como PS4 e Xbox One. A Nintendo Switch fica de fora. Isto é compreensível devido às diferenças gigantes entre as versões.
O EA Sports FC 24 também adicionou algumas equipas e competições femininas. Entre elas estão a Google Pixel Frauen-Bundesliga, a NWSL americana, a Liga F espanhola, a Woman Super League inglesa e a D1 Arkema francesa. Já no que toca a Portugal, apenas podemos contar com a equipa feminina do SLB, que podes encontrar na secção “Resto do Mundo”.
Bola no Pé
Se até agora o FC 24 pode não surpreender, e mantém a tradição de ser um FIFA 23 com uma nova roupagem, a verdade é que existem pequenos novos detalhes interessantes que vão para além dos modos de jogo.
O motor de jogo Frostbite, responsável pela simulação de futebol, surpreende em termos de jogabilidade, pelo menos em parte. A tecnologia HyperMotion V, a mais recente versão da tecnologia de animação da EA, faz uma grande diferença. Os jogadores conseguem driblar os adversários, fazer passes com o lado de fora do pé durante uma corrida, os remates parecem realistas, e cada carrinho é um risco com um resultado desconhecido.
Além disso, os movimentos dos jogadores estrelas são ainda mais distintos. Por exemplo, o remate de tesoura de Haaland (famoso na partida da Liga dos Campeões contra o BVB) está presente no jogo. Em resumo, o futebol é um pouco menos previsível e, portanto, ligeiramente mais realista.
Ainda assim, o jogo parece mais arcade em comparação com a versão beta, com dribles mais lentos e menos eficazes, a velocidade é menos importante, e os diferentes estilos de jogo são mais decisivos para o sucesso nas partidas. Também existem pequenas melhorias nos movimentos da IA, que ainda assim cometem erros parvos com frequência. Os passes são agora mais precisos quando usados juntamente com o botão R1 (playstation) ou RB1 (xbox) ou PC com comando.
Estas mudanças tornam o FC 24 um jogo de futebol melhor do que o FIFA 23, ainda que menos realista do que o seu concorrente PES, mas também mais divertido de jogar. A EA tem perdido sempre que entra demasiado no campo da Konami, e este ano achamos que conseguiu ficar num confortável equilíbrio entre o realismo e a jogabilidade familiar da saga FIFA.
Estilos de jogo
A principal alteração ao gameplay introduzida no FC 24 são os novos Playstyles. Eles substituem as características anteriores e fazem uma diferença real dentro das quatro linhas.
Existem 34 Playstyles (cada um com uma variante Plus melhorada) e quase todas as vedetas do futebol mundial têm vários desses atributos especiais. Por exemplo, Erling Haaland (sim, continuamos a usar o jogador norueguês como exemplo para não destoar do domínio da sua presença em todos e mais alguns menus e ecrãs do FC 24), tem um Power-header (cabeceio poderoso) e um Power-Shoot (remate poderoso). Portanto, é muito provável que os seus pontapés terminem dentro da rede. No geral, ao contrário do FIFA 23, isto faz uma diferença significativa independentemente se jogas contra o Bayern de Munique ou contra o São Jorge Ribeirinhas B.
Ainda é cedo para perceber se os Playstyles vão revolucionar totalmente a jogabilidade, mas já podemos observar que alguns jogadores melhoram imenso por terem estilos compatíveis com a sua posição. Isto pode significar que agora não importa só o número da carta no Ultimate Team. Há outras variáveis a ter em consideração se queremos encontrar o jogador mais completo para a nossa equipa.
Infelizmente as mudanças ficam-se por aqui. A EA Sports mostrou com a versão beta como podia ter ido ainda mais longe. O futebol só é interessante quando é imprevisível, e o FC 24 continua a ser mais ao estilo arcade do que simulação. No entanto, parece que é arriscado mudar, e por isso muitas ‘melhorias’ no gameplay foram revertidas antes do lançamento. Provavelmente a EA teve medo de afastar parte do público ou irritar jogadores já demasiados habituados aos ‘pormenores’ dos anteriores FIFAs.
Agora que a EA Sports está livre das rígidas restrições da FIFA, que segundo eles próprios limitavam a introdução de inovações e novos conteúdos no jogo, acabaram-se as desculpas para lançarem uma edição a um preço significativo, onde se incluem microtransações e pacotes de recompensa, quando o resultado é uma oferta ligeiramente diferente do seu antecessor direto.
Parece óbvio que o problema nunca foi a FIFA, mas sim o mercado em massa que obriga a EA a permanecer numa fórmula de comprovado sucesso sem apresentar grandes inovações que possam melindrar os velhos hábitos de uma ‘fan base’ séptica, intransigente à mudança. De lembrar que é esta ‘fan base’ que todos os anos reivindica melhorias no jogo, para logo de seguida refutá-las justificando que não fazem sentido ao que estão habituados!
Veredito
O EA Sports FC 24 é melhor que o FIFA 23, e numa saga constantemente criticada pela falta de inovação ao longos dos anos, isto já é dizer qualquer coisa. Esta edição apresenta algumas melhorias interessantes em relação aos seus antecessores, principalmente a nível visual e na jogabilidade, no entanto, ainda havia espaço para muito mais.
Alguns erros com a IA ainda são notórios, e exceto o Ultimate Team (a grande mina de ouro da EA) os restantes modos de jogo ficaram praticamente isentos de melhorias. As cartas melhoráveis e a inclusão de jogadoras no Ultimate Team, dão um ar de frescura ao modo, mas o Pay2Win ainda é demasiado notório, e isso retira alguma da natureza competitiva que o modo multijogador deveria ter.
De uma forma geral, o EA Sports FC 24 é um jogo de futebol completo e variado, que compensa a perda da licença da FIFA com um gameplay melhorado, um Ultimate Team incrível e um modo Clubs mais divertido. O jogo apenas peca por um modo carreira pouco inovador e um modo VOLTA muito repetitivo. Com imenso a seu favor, continua a ser um jogo recomendado para os fãs do futebol virtual que procuram uma experiência dinâmica, divertida e personalizável.