Demónios, cavernas e senhores da destruição? Claro que só podíamos estar a falar da saga Diablo, uma das mais populares da Blizzard, a gigante dos videojogos de fantasia. Diablo é um ícone no género Hack and Slash, com raízes nos jogos RPG de tabuleiro, populares na década de 80. Caracterizado por um estilo de videojogos baseados em combate corpo-a-corpo, utilizando espadas e machados em vez de armas de fogo, Diablo incorpora ainda o uso de magia durante os ataques aos demoníacos inimigos.
A SAGA DIABLO
A grande aventura de Diablo começou em 1996, com o lançamento do jogo para Microsoft Windows, e no ano seguinte para Mac e PlayStation. A cidade de Tristram serve como cenário para o primeiro jogo. A capital do Reino de Khanduras no mundo de Sanctuary acabaria por ficar reduzida a ruínas, que o jogador terá de explorar, além de um labirinto de masmorras, catacumbas e cavernas que passam debaixo da cidade agora destruída. Recheadas de inimigos para enfrentar e loots para recolher, todos os caminhos parecem levar até as profundezas do inferno. O enredo de Diablo gira em torno de uma série de missões para libertar Tristram do mal, numa viagem que nos leva até ao próprio Inferno. É aqui que encontramos a personagem Diablo, Senhor do Terror, e um dos sete demónios que outrora dominaram o Inferno.
A história de Diablo gira em torno do reino mortal de Sanctuary, criado pelo Arcanjo Inarius, como um abrigo para os anjos e demónios revoltos da guerra que perdurava entre o Céu e o Inferno, conhecida como o Conflito Eterno. Os descendentes dos anjos e demónios renegados receberam o nome de Nephalem, e possuíam um poder ainda maior do que os seus pais. Temendo esta nova ameaça Inarius utilizou os poderes da Worldstone, o seu mais precioso artefacto, para inibir os poderes dos Nephalem. À medida que os seus poderes foram ficando cada vez mais fracos e as gerações foram passando, os Nephalem esqueceram a sua herança, e passaram a apelidar-se de Humanos. Construíram cidades, nações e exércitos sem nunca conhecerem o seu verdadeiro potencial. No entanto, a Humanidade ainda mostra sinais de poder recuperar a sua antiga força.
Diablo oferece três possíveis classes para cada personagem, Warrior, Rogue e Sorcerer, e a sua expansão Hellfire oferece mais três, Monk, Barbarian e Bard. Todas as classes têm as mesmas habilidades gerais básicas e acesso aos mesmos feitiços, além de uma habilidade extra específica de cada classe. O sistema de drop de itens é aleatório, de forma a que a experiência de jogo seja diferente para cada jogador. Diablo também ficou marcado pelo seu modo multiplayer, que permite até quatro jogadores partilharem a experiência de jogo pela Internet ou em modo local, jogando de forma individual ou cooperativa.
Depois do sucesso do primeiro jogo, a Blizzard decidiu lançar em 2000 uma sequela de nome Diablo II. O novo jogo continua a história de Diablo, com uma maior variedade de níveis divididos por quatro arcos principais. Diablo II permite escolher entre cinco classes diferentes de personagens: Amazon, Necromancer, Barbarian, Sorceress e Paladin. Ao contrário de Diablo, aqui cada classe tem diferentes pontos fortes, fracos e conjuntos de habilidades para escolher, assim como vários atributos iniciais. O nível máximo que qualquer personagem pode obter é o nível 99. Ao contrário da primeira edição de Diablo, Diablo II foi criado especificamente para jogar online, no serviço Battle.net da Blizzard, sendo também possível jogar no modo local.
Em 2001 foi lançada a expansão de Diablo II, Lord of Destruction, que introduziu o quinto arco da campanha e duas novas classes, Druid e Assassin, além de novos itens e melhorias nos sistemas de loot e jogabilidade.
Em 2008, a Blizzard anunciou a muito esperada sequela para Diablo II, durante a Blizzard Worldwide Invitational, em Paris. No entanto, Diablo III surge apenas em 2012, para Microsoft Windows e Mac. A comunidade de jogadores recebeu com apreensão a nova política da empresa que introduziu o sistema “Always Online”, que exigia uma conexão permanente à Internet para poder jogar. Este sistema utilizava um novo método na criação de npcs, que era controlada diretamente pelos servidores da Blizzard. Mesmo com toda a polémica que desencadeou, Diablo III foi o jogo mais vendido do ano para PC, e bateu o recorde de jogo mais vendido nas primeiras 24 horas depois do lançamento, com mais de 3.5 milhões de cópias vendidas. As consolas PlayStation 3 e Xbox 360 receberam também o jogo em 2013, com a nova geração de consolas, PlayStation 4 e Xbox One, a receberem uma versão em 2014.
DIABLO III
A 2 de novembro de 2018 chega a vez da Nintendo Switch receber a sua versão do Hack and Slash, com Diablo 3: Eternal Collection, totalmente adaptado para a popular consola portátil. A versão Eternal Collection inclui todas as expansões existentes para Diablo III, e nesta versão Switch inclui ainda itens extra e um modo totalmente offline, tanto para o singleplayer como em modo cooperativo local.
Numa época onde a maioria dos jogos tem uma edição anual, e muitos outros atingem o pico de jogadores apenas nos primeiros meses depois do seu lançamento, Diablo III chega à Switch seis anos depois de poder ser jogado no PC, o que pode espantar algumas pessoas. No entanto, Diablo está longe de ser apenas mais um jogo, principalmente pela sua fiel comunidade e por ter já o estatuto de saga de culto no mundo dos videojogos.
Ainda assim, a pergunta que muitos jogadores poderão fazer é se vale realmente a pena adquirir um jogo que já puderam experimentar noutra plataforma? Esperamos poder responder a esta pergunta ao longo desta análise.
CLASSES E HABILIDADES
Diablo III na Switch é uma nova experiência, obrigando o jogador a iniciar o jogo de raiz, mesmo que já tenha uma personagem evoluída noutra plataforma. Para já, não é possível importar nenhuma personagem, nem existem garantias que venha a ser possível. Esta limitação pode incomodar alguns jogadores que apenas procuravam uma forma portátil de continuarem o seu jogo, exigindo que recomecem todo o percurso na Nintendo Switch, o que de uma forma geral não nos parece um ponto totalmente negativo, já que podemos reviver toda a experiência de uma forma totalmente diferente.
Ao iniciar uma partida de Diablo III temos de criar o nosso herói e escolher a classe que mais se adapta ao nosso estilo de jogo, entre sete classes únicas: Barbarian, Crusader, Demon Hunter, Monk, Witch Doctor, Wizard e Necromancer.
Cada uma destas classes pode incluir várias habilidades de uma vez, sendo possível alterá-las ao longo do tempo. Cada habilidade ativa utiliza cinco runas que podem fortalecer ainda mais o seu poder. É comum trocar estas habilidades com muita frequência, uma vez que ao longo do jogo vamos podendo desbloquear habilidades cada vez mais poderosas.
Uma vantagem óbvia de Diablo III ser já um jogo maduro, é o facto de as habilidades de todas as personagens terem sido aperfeiçoadas ao longo dos anos, e estarem geralmente equilibradas em todos os aspetos. Podemos combinar quase qualquer tipo de configuração, desde que tenhamos o equipamento adequado, e embora existam combinações mais competitivas do que outras, o mais importante é que se adequem ao estilo de jogo de cada jogador.
O sistema de habilidades de Diablo III pode parecer algo simplificado, em comparação com o que já conhecíamos em Diablo 2 e Path of Exile, com árvores muito maiores e mais complexas. Apesar de incluir menos escolhas, até em comparação com outros jogos do género, faz com que a limitada seleção de opções tenha um impacto imediatamente percetível na jogabilidade, em vez de simplesmente atribuir um ligeiro aumento no dano.
LOOTS E ITENS
O loot é um dos pontos de interesse em qualquer partida de Diablo. Neste aspeto, foram já implementados diversos ajustes no jogo, que permitiram reduzir o número de “lixo” e favorecer o aparecimento de itens que realmente importam. No entanto, todo o lixo pode ser útil, principalmente devido ao sistema de crafting de que ainda iremos falar.
Em Diablo III os itens podem ter uma de cinco qualidades diferentes, Common, Magic, Rare, Set e Legendary, com os dois últimos a serem os mais valiosos e procurados por geralmente trazerem habilidades únicas. Ao contrário de alguns jogos, os itens de alta qualidade não estão limitados às personagens de níveis elevados, e todos os itens podem aparecer escalados ao nível do jogador.
CRAFTING
Se os drops não estiverem a correr bem, temos sempre a opção de criar o nosso próprio equipamento de alto nível. Podemos criar novas armas no Blacksmith, combinar itens no Jeweler, e até trocar as propriedades mágicas de alguns itens utilizando o Mystic. Existe ainda o Kanai’s Cube, que permite obter itens ainda mais raros e poderosos, geralmente a custo de altas somas de recursos. O crafting completa o sistema de itens de Diablo III, e traz alguma justiça ao jogo, equilibrando o fator sorte com o de esforço de Grind.
JOGABILIDADE NA SWITCH
Como seria de esperar, iniciamos o jogo na cidade de New Tristram, e bastaram alguns minutos para ficarmos fãs desta adaptação de Diablo III para a Nintendo Switch. Com a mesma mecânica de jogo que fez de Diablo III uma referência no género Hack and Slash, a nova adaptação apresenta uma fluidez incrível que nos deixou logo impressionados.
Agora, podemos jogar este clássico na sua versão mais completa, que inclui o jogo e todas as expansões lançadas até ao momento. A adaptação de Diablo III: Eternal Collection faz uso das potencialidades da Nintendo Switch. Para além das sessões de jogo solitárias, podemos agora jogar com três amigos em simultâneo e de forma co-op, em partidas locais, sem exigência de ligação à Internet, uma vantagem única desta edição, além da possibilidade de continuar o jogo em qualquer lugar, graças à portabilidade da consola. Outra vantagem, também única na versão adaptada à Nintendo Switch é a possibilidade de jogarmos em modo totalmente offline, especialmente útil em locais sem acesso à Internet.
A velocidade de carregamento não parece ter sido afetada, em comparação com outras plataformas. A consola portátil da Nintendo mostra-se capaz de correr o jogo sem falhas, mesmo quando percorremos vários níveis, e com uma sincronia perfeita em jogos com vários jogadores.
O ecrã da Nintendo Switch, com um tamanho generoso de 6.2 polegadas, não compromete a jogabilidade. Era esperado que alguns detalhes fossem ignorados nesta adaptação, principalmente devido ao tamanho reduzido do ecrã, em comparação com um monitor de computador vulgar, e que por isso alguns textos fossem mais difíceis de ler. No entanto, com uma imagem nítida a 720p e cores vibrantes, conseguimos navegar entre os menus com bastante facilidade, não sendo visível qualquer diminuição na qualidade do jogo ou informação disponível no ecrã. Assim, jogar Diablo III na Nintendo Switch é equivalente a utilizar um ecrã externo, ganhando a vantagem de portabilidade, que permite apreciar o jogo em qualquer lugar.
Os comandos Joy-Con são perfeitos para a ação. Para um jogo originalmente criado a pensar no rato e teclado, a adaptação de Diablo III para a Switch faz um excelente uso dos controlos analógicos e botões de cada joy-con. Não sentimos qualquer dificuldade em jogar, parecendo-nos até mais intuitiva a jogabilidade.
Quanto à bateria, tentámos fazer um pequeno teste. Depois de completamente carregada, usámos a consola em modo portátil durante 2 horas sem necessitar de qualquer carregamento, com ação a decorrer durante todo o tempo e uma luminosidade ajustada em modo automático, o que nos pareceu algo muito satisfatório, especialmente por se tratar de uma consola já com alguma utilização.
Com tantos trunfos, acreditamos até que Diablo III parece ter sido feito de propósito para ser jogado na Nintendo Switch.
VEREDITO
Diablo III na Nintendo Switch não fica atrás das outras plataformas. Graças à portabilidade da consola, arriscamo-nos a dizer que esta é a melhor forma de jogar o maior clássico de Hack and Slash de todos os tempos.
A jogabilidade está perfeitamente adequada à consola, e a vantagem da sua portabilidade reforça ainda mais o elemento de diversão RPG, que exige muitas horas de jogo para evoluir a personagem e explorar todo o mapa. A possibilidade de jogar Diablo III em qualquer lugar, como durante uma viagem de comboio, ou enquanto esperamos a nossa vez numa repartição de finanças, é algo que nos deixa de sorriso na cara e nos permite esquecer as horas mais aborrecidas.
Diablo III: Eternal Collection para a Nintendo Switch inclui alguns elementos de bónus, como a armadura Legend of Ganondorf, um retrato Tri-Force, o pet Cucco, e as asas Echoes of the Mask, uma referência à Máscara de Majora, da série Legend of Zelda, do universo Nintendo.
Como ponto menos positivo, apenas temos a apontar o facto das missões se manterem inalteradas e rapidamente se tornarem entediantes, mas todo o centeúdo extra e o Modo Aventura dão muitas horas de diversão.
Vale a pena? Diablo III: Eternal Collection é mais viciante do que nunca na Nintendo Switch, e embora possa parecer pouco o incentivo para os veteranos voltarem a jogar, o aspeto portátil é algo que agrada tanto a novos, como a antigos jogadores, que querem aproveitar as capacidades da consola on-the-go. Ser capaz de mergulhar no mundo de Sanctuary em qualquer lugar ou momento é algo fantástico.
Esta análise foi baseada na versão do jogo para a Nintendo Switch. Uma cópia foi gentilmente cedida pela Ecoplay.