A história de Baldur’s Gate começa em 1998, com uma edição para PC Windows e Mac Os, que veio a tornar-se num clássico dentro do género RPG. Inicialmente desenvolvido pela tão conhecida BioWare, teve grande impacto junto da crítica, com avaliações muito positivas, além da boa receção por parte da comunidade de fãs que apreciavam jogos de fantasia e RPG, com elementos de dungeon crawling, muito populares na época. De facto, este foi um dos primeiros jogos da renomeada produtora, lançando-a para o topo do mercado de videojogos, e permitindo-a começar a construir o pedigree pelo qual é tão conhecida.
O sucesso de Baldur’s Gate não fez tardar o surgimento de uma sequela. Dois anos depois, em 2000 surge Baldur’s Gate II: Shadows of Amn, uma continuação do título original, desenvolvido pelo mesmo estúdio. Com uma receção ainda mais positiva, chegou a receber vários louvores pela crítica, tendo sido um dos jogos mais vendidos nos EUA durante o seu lançamento, e um recorde de vendas para a editora Interplay. É curioso pensar em como, nesta altura, os videojogos e as suas sequelas demoravam relativamente pouco tempo a serem desenvolvidos, pelo menos quando comparado com o tempo de desenvolvimento que os jogos AAA tipicamente demoram hoje em dia. Falamos de um intervalo de cerca de 2 anos entre Baldur’s Gate e Baldur’s Gate II, um período temporal que muito dificilmente separaria um jogo AAA e a sua sequela nos dias de hoje.
Depois de várias expansões e spin-offs, em 2012 chega às lojas a edição remasterizada de Baldur’s Gate I para PC, pelas mãos do estúdio Overhaul Games, que incluía a edição original do jogo e as suas expansões. A sequela, Baldur’s Gate II, também teve a sua edição remasterizada, no ano seguinte, para a mesma plataforma. Os smartphones receberam edições especiais nos anos seguintes, e só em outubro de 2019 surgem as edições para as consolas PS4, Xbox One e Nintendo Switch, desta vez pela produtora Beamdog.
Um port de um clássico desenvolvido originalmente para PC e agora adaptado para as consolas, nem sempre se revela um trabalho fácil. Nesta análise, tentarei descrever como se comporta a edição para Nintendo Switch da coletânea que reúne os dois jogos de Baldur’s Gate I e II, nas suas versões melhoradas e num pacote a rebentar pelas costuras de conteúdo.
Baldur’s Gate:
Enhanced Edition I e II
Ter a oportunidade de jogar um título que saiu no mercado quando eu tinha apenas um ano de vida revela-se certamente intimidante.
A série Baldur’s Gate quase não precisaria de introdução. O original Baldur’s Gate é um RPG isométrico (chamado assim pela perspetiva da câmara que acompanha o jogador) que se baseia nas regras da 2ª edição de Advanced Dungeons & Dragons, e que é considerado por muitos como um dos melhores, mais icónicos e mais influentes RPGs de sempre.
Tendo em conta o facto de se basear num conjunto de regras de Dungeons & Dragons, é quase como se nem fosse bem um verdadeiro videojogo, mas sim um meio termo entre um videojogo e aquelas aventuras de Dungeons & Dragons, pen and paper RPGs, que se jogam em grupo com os amigos. Uma aventura Dungeons & Dragons em que o dungeon master, aquele que controla a narrativa e a sucessão de eventos numa partida de D&D, é automatizado, e substituído por um computador.
Muita da jogabilidade no original Baldur’s Gate não será desconhecida dos fãs de RPGs. É possível personalizar o nosso personagem consoante o nosso agrado, explorar diferentes cidades, localizações, masmorras e combater inimigos. Para além disso, os fãs de uma boa história não se irão desiludir com a narrativa extremamente expansiva deste título, nem com os diálogos existentes e as diversas possibilidades de escolha nos mesmos. A chamada “magia BioWare” está aqui presente, de facto.
Para além do jogo original, esta edição inclui ainda as expansões The Black Pits e Siege of Dragonspear (que expandem o jogo original), para além de Baldur’s Gate II: Shadows of Amn, e as respetivas expansões The Black Pits II: Gladiators of Thay e Throne of Bhaal (que expandem Baldur’s Gate II). Falo, portanto, de centenas de horas de conteúdo RPG sumarento numa só coletânea.
Segundo a produtora Beamdog, esta edição inclui centenas de melhoramentos aos jogos adicionais, entre os quais a adição de duas novas dificuldades: Modo História, para jogadores que pretendam uma jogabilidade fácil que lhes permita apreciar a história sem grandes picos de dificuldade, e Modo Legacy of Bhaal, uma dificuldade ainda mais extrema que o modo de dificuldade insana já existente nos jogos originais.
Outros melhoramentos incluem uma resolução mais elevada, aumento do level cap, novas classes e subraças, importadas do Baldur’s Gate II para o primeiro jogo, e também um modo multijogador que, no caso desta nova versão para a Nintendo Switch, ainda não está disponível no lançamento. Para alguns, todo este conteúdo e melhoramentos disponíveis nestas novas versões poderá justificar o preço de 60 euros deste título. Outros, contudo, acharão um preço demasiado elevado a pagar por “trapos velhos”.
Performance Técnica e Controlos
Uma vez que falo de jogos tão antigos, seria realmente difícil dizer que a Switch não os consegue correr perfeitamente bem. A Switch consegue correr estes títulos sem quaisquer problemas. Nunca notei quaisquer solavancos a nível técnico. Até sinto que a versão em modo portátil acaba por ser uma versão quase melhorada destes jogos. Os gráficos pixelizados, quando vistos num ecrã maior, não são de todo tão agradáveis como quando vistos na pequena Switch. A menor dimensão do ecrã “amacia”, de certa forma, a aparência visual do jogo.
O único aspeto que não apreciei tanto, e que, de facto, revela a idade do jogo, foram os controlos. Nota-se, ao jogar Baldur’s Gate, que se trata de um jogo que foi originalmente desenvolvido para computador, e que a maneira de controlar o personagem e o seu movimento é pouco intuitivo, principalmente em alturas de combates. Felizmente, o jogo permite que se pause a qualquer altura para planear o próximo movimento do jogador ou da equipa, minimizando alguma frustração que possa advir do uso dos controlos.
De igual forma, alguns menus e atalhos também me pareceram um pouco antiquados no seu design. É um jogo que requer algum hábito e paciência, e que não tem a facilidade que associamos a títulos mais recentes. Mesmo assim, uma vez habituado aos controlos, dei por mim aliciado por este mundo baseado no interessantíssimo universo de Dungeons & Dragons. Embora considere o combate em si um pouco frustrante e arcaico, principalmente pela sua dependência na sorte (cada ataque depende de um rolar de dados, basicamente), todos os restantes elementos RPG neste título se revelaram cativantes, e, a nível técnico, muito bem executados.
Veredito
O original Baldur’s Gate é um título que ficou na história como um dos RPGs mais importantes e influentes de sempre, permitindo a solidificação da BioWare enquanto respeitada produtora, e abrindo portas a tudo o que afinal era possível num RPG em 1998. Tantos anos depois, este clássico não deixa de encantar, envelhecendo tão graciosamente como um espetacular vinho do Porto. Apesar de um sistema de combate algo arcaico, e com controlos que por vezes se podem revelar frustrantes, a narrativa, mundo, exploração e sentido de progressão ainda hoje surpreenderão qualquer fã de RPGs densos e massivos.