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Dragon Quest Builders 2 é a continuação do spin-off Builders da série Dragon Quest, um RPG que mistura elementos de ação, sandbox e construção, desenvolvido pelo estúdio Omega Force da Koei Tecmo, em parceria com a Square Enix, tendo sido publicado por esta última. Foi lançado para a Nintendo Switch e para a PlayStation 4, primeiro no Japão, em dezembro do ano passado, e finalmente no ocidente no passado dia 12 de julho. Como é óbvio pelo título do jogo, representa a sequela de Dragon Quest Builders, de 2016.

Dragon Quest Builders 2

Dragon Quest Builders 2

Ao introduzir o jogo, apresentei-o como um “RPG que mistura elementos de ação, sandbox e construção”, o que não é uma descrição curta, mas é a mais adequada. De facto, o jogo apresenta um pouco de tudo isso. Somos introduzidos a um mundo onde construir e criar não são atividades muito bem vistas. O grupo conhecido como Children of Hargon persegue e procura exterminar construtores e todos aqueles que no geral se atrevam a criar alguma coisa. A história não é, digamos, demasiado profunda, e é preferível deixarmo-nos levar na viagem do que pensar muito sobre o que realmente está a acontecer.

O nosso personagem principal encontra-se capturada num barco pelas Children of Hargon. Apesar de estarmos supostamente encarcerados, o capitão do navio ainda nos deixa passear pelo barco e completar umas missões que se assumem como tutorial. Ora, eu já tinha jogado Dragon Quest Builders, de modo que grande parte dos controlos já eram do meu conhecimento. Faltava apenas desenferrujar um pouco, uma vez que já passava algum tempo desde o primeiro jogo e não me lembrava de todos os comandos de jogo. Posto isto, o tutorial, embora lento e pachorrento, ajudou a que voltasse a estar familiarizado com os controlos, e assim navegar em direção à história principal.

O barco acaba por ser atingido por uma enorme tempestade, e o nosso personagem principal acaba por dar à costa de uma ilha chamada Isle of Awakening. É lá que verdadeiramente começa a nossa aventura. Depressa conhecemos o misterioso Malroth, que se revela um bom companheiro de aventuras, e rapidamente nos encontramos numa missão de reconstrução pela ilha fora, e pelos demais territórios a descobrir.

Um aspeto importante em relação à história é o facto de os diálogos serem extremamente extensos e, na minha opinião, exageradamente pormenorizados. Certamente que isso não surpreende os fãs da saga Dragon Quest e até os fãs de JRPGs (RPGs de origem japonesa) no geral. Pessoalmente, considerei os diálogos interessantes apenas no início, mas depressa o seu elevado volume começa a maçar, e a distrair do propósito que o diálogo realmente devia ter: imergir-me na história deste universo, e cativar-me pelas personagens que o habitam.

Assim, em vez de me fascinar com diálogo rico e cuidadosamente criado, dou por mim a ler um tanto à pressa os verdadeiros testamentos que os NPC disparam a cada interação, surgindo-me constantemente a dúvida se estou a jogar um jogo, ou na verdade a ler as 53 mil páginas do processo da Operação Marquês! Com isto, não quero dizer que lá pelo meio não se encontre um trocadilho engraçado, uma constatação curiosa, ou um novo detalhe sobre um personagem que nos torne ligeiramente mais curiosos.

Dragon Quest Builders 2
Dragon Quest Builders 2. Imagem: DR

A questão é que, com um volume tão massivo de diálogos, que muitas vezes parecem não só supérfluos e com pouco ou nenhum impacto na história principal, também tornam difícil manter o mesmo empenho em relação à história, enquanto esta se desenrola à nossa frente, como um daqueles papiros da BD que comicamente desenrolam infinitamente. Talvez a culpa disto seja minha e da minha geração, infames millennials com uma capacidade de atenção de 5 segundos, sempre agarrados ao smartphone numa busca constante pela próxima coisa que nos estimule o cérebro.

Jogabilidade

A jogabilidade em Dragon Quest Builders 2 apresenta-se em grande parte bastante semelhante à jogabilidade apresentada no título anterior. Como já disse, este é um jogo que mistura ação, sandbox e construção. Muitas pessoas chamam ao jogo uma espécie de “Minecraft com história”, mas o jogo acaba por se diferenciar em muito mais do que apenas a história. É verdade que o nos apresenta uma história relativamente linear, contudo, as missões e os objetivos são geralmente abertos o suficiente para permitir ao jogador alguma liberdade.

Dragon Quest Builders 2
Dragon Quest Builders 2. Imagem: DR

As missões tipicamente incluem atividades de construção e expansão como, por exemplo, construir um dique para a água ou um quarto para os habitantes da vila, descobrir novas espécies agrícolas para cultivar, ou plantar variedades de legumes, cereais e vegetais. Contudo, há uma certa abertura e liberdade concedidas ao jogador na concretização de alguns destes objetivos. Por exemplo, a missão pode ser plantar 50 cereais de um certo tipo (trigo, por exemplo), mas a forma como construo, disponho e decoro as plantações está inteiramente ao meu dispor, desde que plante os tais 50 cereais. Da mesma forma, se tenho de construir um quarto para os habitantes da vila, o jogo não me diz que materiais específicos é que tenho de usar para o construir, ou de que forma é que o decoro.

Dragon Quest Builders 2
Dragon Quest Builders 2. Imagem: DR

Para alguém que geralmente se sente “sobrecarregado” quando um jogo apresenta demasiadas opções, variedade e liberdade, ter a possibilidade de aplicar a minha criatividade e gosto próprios na construção de edifícios e plantações, mas ao mesmo tempo ter sempre um guia sob a forma de história para me orientar num certo sentido, permite que nunca me sinta verdadeiramente perdido sem grandes objetivos ou rumo a seguir. Isso certamente me aconteceria num jogo que ligasse mais aos elementos de sandbox propriamente ditos, do que à história em si. Um desses exemplos é o clássico Minecraft, o jogo sandbox por excelência, que apresenta possibilidades perto de infinitas aos jogadores, possibilidades essas que para mim, na ausência de uma narrativa de base ou objetivos concretos, se relevariam mais esmagadoras do que necessariamente divertidas.

Ter a possibilidade de aplicar a minha criatividade num contexto bem mais limitado é para mim mais gratificante. Já por várias vezes ao longo do jogo apeteceu-me redefinir certos aspetos de como configurei a vila e as minhas construções. Mudar uma coisa ali, mudar outra coisa acolá é suficiente para que fique satisfeito. Por várias vezes ficava tão entretido nesta rotina que até me esquecia completamente de me alimentar (não na vida real, falo do personagem, claro), o que fazia com que o medidor da fome/energia chegasse ao mínimo de 0% e finalmente me alertasse de que me deveria alimentar ou então começaria a perder pontos de vida.

É na mesa de construção que o jogador encontra a sua principal ferramenta de acesso às possibilidades de criação em Dragon Quest Builders 2. Através da recolha de matérias-primas, como madeira, folhas secas ou pedra, é possível construir coisas como blocos para erigir edifícios, portas para os fechar, e camas para à noite nos confortar. Por outro lado, na bigorna é possível construir armas mais fortes que permitam enfrentar monstros mais desafiantes. E na fogueira é possível cozinhar alimentos crus, obtendo assim comida que recupera mais energia e pontos de vida. Mais tarde é possível aceder a utensílios mais avançados, como a forja.

Dragon Quest Builders 2
Dragon Quest Builders 2. Imagem: DR

Em termos de combate, o jogo oferece um sistema francamente básico e simples, mas que não deixa de ser divertido, pelo menos no início. O combate que o jogo apresenta baseia-se em premir repetidamente o botão de ataque, até o monstro inimigo perder a vida, tendo o jogador de se desviar ocasionalmente dos ataques. Felizmente, nas nossas aventuras, temos a companhia de Malroth, que nos ajuda a combater os bichos, bem como a recolher novos materiais para construir. A adição de um companheiro de aventura, que não se encontrava presente no primeiro jogo, é muito bem-vinda, tornando as atividades muito menos maçadoras. A presença de Malroth, contudo, significa que em conjunto damos muito mais dano aos inimigos, e no geral recolhemos o dobro dos recursos que o meu personagem conseguiria recolher sozinho, o que acaba por ser muito útil.

Dragon Quest Builders 2
Dragon Quest Builders 2. Imagem: DR

Ainda sobre combate, a vila é regularmente invadida por monstros que geralmente querem comer as colheitas. À medida que progredimos no jogo, os monstros invasores também começam, por sua vez, a subir de nível, tornando-se mais fortes. Para além disto, é necessário ter especial atenção durante a noite, porque é muito mais provável nesta altura ser invadido por algum monstro particularmente forte. Nestas situações, é recomendável ao jogador que durma durante a noite, para evitar lutas contra monstros muito acima do nível adequado.

Na vila encontramos muitos outros NPCs que nos ajudam em tarefas como cultivar os terrenos, semeá-los ou regá-los. De cada vez que efetuam alguma destas tarefas, “soltam” corações que, ao serem recolhidos pelo jogador, permitem que este suba o seu “base level”, que é basicamente o nível da vila. Subindo este nível, é possível começar a desbloquear novos tipos de blocos e decorações para aplicar em missões, ou na configuração e decoração da vila.

Dragon Quest Builders 2
Dragon Quest Builders 2. Imagem: DR

Por outro lado, o personagem do jogador também dispõe do seu próprio nível (ou não seria este jogo um verdadeiro RPG), que vai aumentando à medida que este mata monstros e completa missões. À medida que o nível do personagem sobe, este passa a ter mais pontos de vida e mais energia (o que significa que a fome não o afeta tanto), e acesso a melhores armas e equipamento, que permitem um melhor desempenho no combate contra monstros cada vez mais fortes.

A exploração em Dragon Quest Builders 2 é auxiliada pela introdução de novas mecânicas, como a exploração subaquática, que no título anterior não era possível, bem como de uma nova asa-delta, que permite saltar de pontos altos e planar, permitindo uma mobilidade que anteriormente simplesmente não era possível. Também a existência de pontos de “fast-travel” ajuda a tornar a exploração mais dinâmica, permitindo mais facilmente regressar à vila, ou visitar determinados pontos de interesse.

Existe também um novo modo de primeira pessoa, que, apesar de ser muito bem-vindo em certas ocasiões, optei por não utilizar frequentemente. Em primeiro lugar, este não me parece ser o tipo de jogo que beneficiaria muito em termos de imersão se passasse a jogá-lo na primeira pessoa. Não é nenhum Red Dead Redemption 2. Utilizei apenas o modo de primeira pessoa para, por vezes, acertar alguns blocos que tinham ficado mal colocados. Para este tipo de situações o modo de primeira pessoa realmente oferecia-me a precisão necessária, mas de resto optei sempre pelo modo de terceira pessoa, como forma de melhor ver tudo o que se passava à minha volta, e explorar em meu redor.

Dragon Quest Builders 2
Dragon Quest Builders 2. Imagem: DR

Gráficos e Performance Técnica

Antes de proceder à análise técnica, convém reforçar o facto de que adquiri o Dragon Quest Builders para a Nintendo Switch, e que na altura o joguei exclusivamente no modo portátil. Por seu lado, esta análise foi baseada no Dragon Quest Builders 2 para a PlayStation 4, de modo que uma comparação técnica das duas versões não será propriamente justa. De qualquer forma, sinto que foi um salto gráfico suficiente. De facto, o jogo anterior nunca foi a maior beldade do mundo, e o Dragon Quest Builders 2 também de certeza que não é, de longe, o jogo mais bonito disponível na plataforma da Sony. Posto isto, os gráficos são relativamente simples e coloridos, sendo que as paisagens, por sua vez, podem acabar por ser extremamente bonitas, por uma questão de perspetiva (tal como, por exemplo, no Minecraft).

Dragon Quest Builders 2
Dragon Quest Builders 2. Imagem: DR

Nunca cheguei a notar atrasos ou diminuição de framerate, tendo a versão para PlayStation 4 sido absolutamente impecável nesse aspeto. Não é, de todo, o jogo que mais vá puxar pela consola. Gostei particularmente da apresentação dos menus que, nesta versão, se tornaram visualmente mais atrativos.

Dragon Quest Builders 2
Dragon Quest Builders 2. Imagem: DR

VEREDITO

Muito posso eu escrever aqui e elogiar Dragon Quest Builders 2, mas a verdade é que não há nada como serem vocês a colocar as mãos na massa. O jogo possui uma demo, portanto, se se encontrarem com dúvidas em relação à compra deste título, não há nada a perder, nem risco nenhum em experimentar a demo como forma de perceber se é do vosso agrado ou não. O título anterior, Dragon Quest Builders, também se apresenta como um bom ponto de partida para a série, e, como de facto o jogo já tem alguns aninhos, certamente que se encontrará a um preço bem mais acessível e apetecível a todas as carteiras.

Para finalizar, Dragon Quest Builders 2 é uma sequela que parte de uma fundação de jogabilidade já bastante sólida. O jogo original havia pegado na fórmula vencedora do Minecraft, aplicando-a ao universo de Dragon Quest com bastante sucesso. O resultado foi uma excelente combinação entre construção, criatividade e exploração, com uma narrativa e elementos RPG a acompanhar. A sequela vem refinar tudo isto. No geral, a adição de novas mecânicas, a introdução do companheiro de aventura, e um refinamento das mecânicas de construção, bem como melhorias ao nível dos controlos e dos menus, que estão visualmente mais atrativos e responsivos, e ainda uma história nova no universo de Dragon Quest levam a considerar esta nova sequela como possuindo novidades suficientes para ser verdadeiramente merecedora desse título. Pode-se considerar mais do mesmo, mas é mais de algo que já era muito bom, e não há nenhum mal nisso.