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O grande certame do desporto mundial está de regresso. Desta vez a Terra do Sol Nascente é o palco para a grande competição que coloca à prova milhares de atletas de todo o mundo nas mais diversas modalidades. A decisão de adiar os Jogos Olímpicos foi tomada a 24 de março de 2020, após discussões entre a organização Tóquio 2020 e o Comité Olímpico Internacional (COI) e após pressão significativa de várias equipas mundiais e organizações desportivas. No entanto, a decisão de manter a marca 2020 levantou alguma curiosidade. Nenhuma outra edição dos Jogos Olímpicos foi reprogramada para outro ano civil.

A justificação de manter o branding pode ter sido uma questão de gastos com marketing e mercadorias existentes. Também seria uma abordagem um pouco estranha em termos de convenção de nomenclatura, já que todos os Jogos Olímpicos – verão e inverno – são realizados em anos pares. Mas, conjeturas à parte, o que importa é que a grande competição está de regresso e a ação não só tem sido intensa, como promete ainda grandes emoções.

Se nem todos nós temos a possibilidade de representar o nosso país no maior palco do desporto mundial, a SEGA sugere-nos uma solução, com o jogo oficial dos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, ou mais propriamente o Olympic Games Tokyo 2020 – The Official Video Game.

Desde as habituais modalidades desportivas, até à presença espiritual do Sonic, figura icónica da SEGA, que também pode competir ao lado de outros atletas, esta é uma aventura que oferece quase tudo o que pode, mesmo que nem sempre o faça totalmente bem. Longe de se tratar de um simulador Olympic Games Tokyo 2020 apresenta-se como um leve e descontraído arcade para a família, com amigos ou sozinho.

Mas, será que o estilo arcade encaixa nesta temática? E o facto de ser multidisciplinar piora a jogabilidade? Para responder a esta e outras questões, fomos ainda mais além, e desta vez tornámo-nos nos novos atletas olímpicos digitais do Olympic Games Tokyo 2020.

Análise Olympic Games Tokyo 2020 The Official Video Game

Antes de entrarmos no grande certame, temos de definir quem somos, como somos e de que país somos! Para isso, temos à nossa disposição um construtor de avatar, onde escolhemos o nosso aspeto personalizado. Dentro de um visual ao estilo de desenho animado, as opções até são generosas, desde o atleta mais pesado e corpulento até ao leve e ágil, como do mais sério, ao excêntrico. Esta tarefa acaba sempre por demorar mais do que o esperado, principalmente com tantos detalhes por onde escolher. O criador de personagens é bastante multifacetado e dá liberdade quase total em características de género, como bigodes e cabelos. Opções e gostos à parte, o que interessa é, no fim, não ficarmos desapontados com o nosso personagem. No nosso caso, escolhemos jogar com o Sonic, como homenagem o ícone maior dos jogos de plataformas.

Escolhido o nosso atleta, o plano de ação é bastante direto. Temos de selecionar um dos países em competição, praticar o maior número de desportos que conseguirmos, e como é óbvio, tentar ganhar medalhas. As provas exigem a conclusão de várias etapas até à final, onde podemos ou não conquistar o muito ambicionado ouro.

Para isso contribuiu o nível dos adversários da IA, que nem sempre é o mesmo ao longo das várias provas. Seja com facilitismo a mais, ou o contrário, a verdade é que temos de assumir a nossa escolha de dificuldade.

O nível escolhido ao inicio define a dificuldade de todas as provas seguintes, e qualquer erro exige recomeçar todo o processo, algo que podia ter sido pensado de outra forma, principalmente num jogo descontraído como este.

Rodízio de Modalidades

Olympic Games Tokyo 2020 oferece vários modos de jogo para escolher, como o jogo online (mais ou menos competitivo), o modo de treino, e o modo olímpico (quem diria…), que embora não seja uma campanha propriamente dita, é configurável o suficiente para criarmos as nossas próprias Olimpíadas, e participarmos em parte ou na totalidade dos 18 eventos desportivos simulados no jogo.

Como é costume neste tipo de jogos multidisciplinares, nem todos os desportos estão adaptados ao mesmo nível. Alguns mais tradicionais, como o salto em comprimento, ou a corrida dos 100 metros, foram bem conseguidos, mesmo que por vezes apresentem um carregamento maior do que a duração da prova, isto ainda na ‘antiga’ PS4.

Já os eventos mais complexos, como o futebol, o basquetebol, ou o voleibol de praia, não estão espetacularmente adaptados. Talvez a existência de jogos como o eFootball, o NBA 2K, ou o Spike Volleyball, tenham-nos habituado a um nível que um arcade não acompanha. Ainda assim, também não desiludem e até conseguem transmitir a experiência tão divertida quanto desejável.

O BMX é um caso especial, e embora seja bastante divertido, apresenta comandos demasiado imprecisos para classificar. Mesmo com este estilo assumidamente arcade, sentimos que podia ter sido oferecido um pouco mais de qualidade.

Com 18 modalidades para experimentar, é esperado dedicarmos mais tempo aos deportos que mais nos divertem, e menos àqueles que apresentam algumas falhas de conceção.

Procura-se Inteligência

Todas as modalidades acabam por ser mais desafiantes no modo multijogador, porque a IA nem sempre é muito ‘inteligente’. Talvez por falta de sorte ou por falta de jogadores, sentimos alguma dificuldade em encontrar parceiros de jogo reais. O modo online oferece espaço para até 8 jogadores, no entanto afigura-se quase desértico. Felizmente podemos sempre jogar com um amigo no modo local. Esta é uma importante alternativa a jogar sozinho, uma tarefa que se mostra rapidamente entediante.

Habilidades

A SEGA não introduziu microtransações, mas podemos gastar pontos ganhos no jogo para mudar ou melhorar alguns detalhes, principalmente visuais, como utilizar novas skins e adereços. Existe um pequeno ‘grind’ necessário, se quisermos ter acesso às muitas opções oferecidas, mas nada de especial ou exagerado.

Ao participar várias vezes no mesmo desporto, também desbloqueamos certas vantagens específicas para cada evento – um arranque mais rápido, um movimento especial ou qualquer conselho simples, que infelizmente nem sempre são óbvios ou fáceis de utilizar. É um pouco estranho este sistema, uma vez que para vencer uma final é quase obrigatório utilizar estas vantagens. No entanto, para as conhecer, é necessário sair da partida, voltar ao menu, e regressar novamente ao jogo.

Conclusão

Olympic Games Tokyo 2020 é um caso raro de um jogo moderno que foi talhado quase inteiramente a pensar no fator diversão, mesmo com todos os problemas e vantagens que isso coloca. A jogabilidade, por exemplo, mesmo quando é bem projetada, fica um pouco aquém do que gostaríamos. Os vários bónus e movimentos especiais impedem que o jogo seja uma simulação. Também não atinge o grau de fantasia de um Mario & Sonic que apresenta habilidades ainda mais exageradas, o que não significa que esta oferta seja pior, bem pelo contrário. Mario & Sonic apresenta-se como um jogo de fantasia, enquanto Olympic Games Tokyo 2020 diverge entre o real e o impossível, tornando uma experiência única, divertida, mas com algum sentido realista. E é aqui que algo fica estranho!

Para um jogo oficial de um evento mundial, esperávamos que o jogo fosse sério, um simulador, algo que promovesse o desporto olímpico e potenciasse a aprendizagem sobre a competição. Ao invés disto, a organização apresenta-nos um jogo divertido, mas trivial.

Não sendo um jogo de simulação, nem um arcade completo, Olympic Games Tokyo 2020 fica algo no meio dos dois estilos, e isso não é bom para a jogabilidade geral. No entanto, este meio-termo parece-nos uma escolha que vai ao encontro do ponto de vista artístico que quiseram imprimir. Os atletas de arestas ligeiras e estilo quase caricatura tentam justificar os poderes sobrenaturais, e evitam que pareça demasiado desatualizado a nível técnico. O trabalho executado no som acompanha esta tendência, e como o jogo é colorido, acaba por ter uma personalidade própria.

Existem alguns problemas na experiência geral de jogo, nos menus, um número bastante reduzido de eventos, e um interesse desigual em cada um deles. No entanto, reconhecemos o esforço para oferecer uma variedade diferente de formas de jogar, um visual interessante e talvez mais importante, o bom ambiente que emana o jogo.

Em forma de resumo, Olympic Games Tokyo 2020 é um divertido jogo multidisciplinar, que embora apresente alguma variedade com 18 eventos em 13 desportos, continua longe da imensa quantidade de desportos presentes nos verdadeiros Jogos Olímpicos (33 desportos, com 339 eventos). A sua irregularidade entre modalidades, acaba por ser compensada pelos visuais cómicos e pela atmosfera ‘feel good’ que apresenta.

A solo, mostra-se rapidamente entediante, mas com um ou mais amigos, proporciona bastantes horas de diversão. Para quem procura poder jogar muitos desportos, e não se incomoda com uma jogabilidade mais simples e uma experiência olímpica mais relaxada, o Olympic Games Tokyo 2020 é certamente a escolha ideal.

[Análise baseada na versão de Olympic Games Tokyo 2020 – The Official Video Game para a PlayStation 4, gentilmente cedida pela playandgame.pt]