Quando começa a caçada, ninguém é mais habilidoso na captura da presa do que um ‘verdadeiro’ Predator! Esta é a proposta que os estúdios da Sony nos trazem com Predator: Hunting Grounds, um shooter que é, obviamente, inspirado na famosa saga de filmes Predator (Predador).
Inicialmente pensado como um exclusivo PlayStation 4, este jogo desenvolvido pela IllFonic, acabou mesmo por chegar ao PC, seguindo a nova tendência da Sony em expandir as suas criações até aos computadores.
Com uma experiência multijogador assimétrica, uma função cross-play com o PC, e um protagonista famoso, será esta uma fórmula de sucesso? Predator: Hunting Grounds pode ter momentos interessantes, mas nem tudo foi bem conseguido.
Predator: Hunting Grounds
A selva parece ser um elemento recorrente para jogos de guerra, e Predator: Hunting Grounds seguiu a mesma tendência. Se à partida estaríamos ansiosos por reviver uma história conhecida do grande ecrã, na pele do predador, depressa percebemos que a nossa ambição terminaria numa única opção de jogo, o multijogador online. Este não é, contudo, um problema para este jogo, e muito menos um ponto negativo. Nos dias de hoje, os modos multijogador são, normalmente, apreciados e especialmente expectáveis em jogos de guerra. O que nos desiludiu foi o facto de Predator: Hunting Grounds resumir-se a apenas este modo de jogo. Não podemos jogar sozinhos, não existe um modo de história, nem sequer há opção de treino. Somos empurrados para um mapa com outros jogadores reais, num ambiente quase ‘todos contra todos’ num ambiente da selva como meio que envolve toda a ação.
A escolha do nosso personagem resume-se a um soldado de elite, que irá fazer parte de uma equipa de quatro jogadores reais, ou o perigoso e sofisticado Predator. A esta altura, podíamos pensar se a escolha divide-se entre se queremos caçar ou ser caçados? Na verdade, todos caçam todos, numa mistura de objetivos que são acrescentados ainda pela agenda interna dos mercenários que tem objetivos específicos, e que, inicialmente, não incluíam o Predator. Sim, este aparece como uma surpresa inesperada para estes soldados que alegremente viviam as suas vidas a estoirar com acampamentos!
Os soldados não estão na selva para passar férias, mas sim para cumprirem objetivos. Em Predator: Hunting Grounds, esses objetivos consistem em infiltrarmos-nos em campos inimigos, roubarmos informações, explodir equipamentos críticos, e outras coisas básicas que fazemos com um simples pressionar de tecla junto do alvo. Nunca foi tão fácil ser soldado!! Às vezes também devemos defender objetivos enquanto contra-atacamos oponentes da IA, até nos ser apresentado o próximo objetivo.
Mas afinal, o que anda a fazer o Predator no meio desta história? Ou seja, o jogador que escolheu ser o Predator? Ele apenas tem um objetivo, que é caçar os mercenários, ignorando completamente os soldados controlados pelo jogo. Talvez os soldados npc sejam menos interessantes, mas a verdade é que só os quatro jogadores é que realmente contam para os objetivos do Predator?
De qualquer forma, para os mercenários, a missão original permanece, enquanto a sobrevivência tornou-se numa prioridade. É um pouco como na vida real, só que com muito mais dramatismo, e um bicharoco agressivo atrás de nós. Ou matam o Predator, ou certamente serão mortos por ele.
A Caçada
Como as caçadas são realizadas exclusivamente online, e não há história, nem missões individuais que a suportem, o estúdio introduziu algumas citações e alusões à saga, que tentam dar algum corpo à experiência. Embora interessantes, infelizmente acabam por ser apenas engraçadas. Alguma da atmosfera do cinema é replicada no jogo. Isto deve-se em grande parte à banda sonora, que é partilhada com o filme, e pelos efeitos sonoros do próprio Predator, que podem provocar alguns arrepios, principalmente se tivermos colocado os auscultadores.
É uma pena que a Illfonic não mantenha este nível de produção cinematográfica durante todo o jogo (até a nível de grafismo), e que a própria interação entre a equipa de soldados seja tão diminuta. Esta é uma aventura de grupo, e os jogadores deviam cooperar para atingirem os objetivos, no entanto, o jogo nunca potencia essa sensação de cooperação, pelo menos do ponto de vista social. Durante a jogabilidade a falta de cooperação é um pouco mais evidente, mas também o que podíamos esperar de uma equipa formada no momento com jogadores que não se conhecem, provenientes de qualquer parte do mundo?
Os membros da equipa podem desempenhar um papel especifico, onde todos os participantes decidem a classe e o equipamento do seu personagem. As possibilidades incluem skills específicos para cada classe, como o facto de camuflarem-se por mais tempo, ou usarem uma espingarda sniper. A lista de possibilidades até é considerável para o tipo de jogo. Infelizmente nem todas as opções vêm desbloqueadas inicialmente e, embora possa ser factor de motivação termos de jogar para receber mais itens e classes, torna-se um pouco limitante não termos todas as opções à nossa disposição desde o primeiro minuto.
Já o Predator é mais multifacetado, com três classes à disposição e a opção de se tornar numa caçadora. Sim, aqui o Predator pode ser fêmea! É verdade, não há uma forma mais ‘simpática’ de o dizer!
Inteligência Menos Rápida
Ainda mais lamentável é o facto das missões decorrerem muito rapidamente, não só porque estão limitadas a um máximo de 15 minutos, mas principalmente porque os objetivos estão divididos por apenas algumas poucas centenas de metros entre si. Quando chegamos aos pontos marcados, colecionamos munição ou pontos de experiência e seguimos em frente. Parece que falta algo mais.
O fato de termos de defender algumas posições contra o avanço de oponentes da IA, apenas serve para dar ao Predator a oportunidade de usar a nossa distração para o seu ataque. O mecanismo pode fazer sentido, mas esta parece-nos uma das maiores oportunidades desperdiçadas no jogo. Seria bem mais interessante colocar uma outra equipa de jogadores reais no lugar da IA, e colocar o Predador, como um caçador wildcard, na função de eliminar ambos os grupos. Retirávamos do campo de batalha uma IA que é claramente muito fraca e desinteressante, e colocava-se toda a ação na mão dos jogadores, num verdadeiro battle royale assimétrico. Salve-se quem puder!
A Presa
Embora a IA seja apenas um acessório perante a feroz ameaça do Predator, a verdade é que isso nem sempre é o caso. O alienígena não é tão poderoso como inicialmente poderíamos esperar, e exige alguma perícia do jogador que o personifica para realmente dominar o mapa. Além disso, ele é facilmente descoberto pelos mercenários, quando a camuflagem ótica é ligada, que produz automaticamente um barulho inconfundível, ou através dos passos demasiado barulhentos, ao nível de um jogador de CS 1.6.
Como se não bastasse, podemos marcá-lo para toda a equipa, mesmo em estado camuflado! No filme nada disto acontece. O Predator é um caçador nato, altamente indetetável e impiedoso. Mas aqui, com tantas facilidades, é ele quem acaba rapidamente por se tornar a presa. Talvez não fosse essa a ideia inicial dos produtores?
Ainda assim é possível ser um Predator bem-sucedido. A melhor coisa a fazer é correr em direção aos soldados, feri-los em combate corpo a corpo, fugir, e depois repetir todo o processo.
Mas não devia ter de ser assim! O Predator nem sequer é muito rápido. Em Hunting Grounds parece que a Illfonic teve medo que os jogadores ficassem entediados em situações onde ambas as partes se observam por um longo período de tempo. Este não é um jogo para táticas, nem planeamentos. Aqui é correr e disparar! Afinal de contas tudo termina em 15 minutos.
Pequenas mudanças dariam ao jogo uma sensação completamente diferente. Se o Predator pudesse mover-se quase silenciosamente e sem ser visto (além de uns barulhos ocasionais), e os soldados não corressem pela selva como o Sonic, toda a ação seria muito mais interessante.
Objetivos
O sistema de vitória não foi mal construído, e achámos positivo que não seja exigido uma espécie de “Vitória Perfeita”, embora existam vários objetivos para concluir. O nosso alien recolhe crânios como troféu, até um total de sete. Sim, sete! Apesar de existirem apenas quatro jogadores, pode haver sete crânios para coleccionar. Vamos já à explicação: Isto acontece porque após a morte de pelo menos um companheiro, os mercenários podem fazê-lo ressuscitar, pelo menos uma vez, se concluírem uma pequena missão secundária. Ahh, se tudo fosse assim tão fácil!
Já para os soldados, a definição de vitória é um pouco mais complexa. Obviamente queremos caçar o Predator, embora esse não seja o objetivo final do jogo, nem o principal. Temos 15 minutos para cumprir uma série de desafios que, cada um deles, atribui pontos para a nossa classificação final. Se em último caso, fugir com vida da área da explosão (que acontece ao fim de 15 minutos), pode ser considerado um sucesso, ou cumprir missões paralelas podem atribuir mais pontos, a verdade é que não chega apenas caçar o Predator para sermos vitoriosos. Temos de sobreviver até ao último segundo.
Num dos jogos, chegámos a caçar o Predator enquanto completámos as pequenas missões da IA, mas não houve tempo para fugir. Uns correram mais depressa do que outros e apenas um dos nossos companheiros sobreviveu à explosão. Só ele viveu para contar a história! Um pouco decepcionante para os outros jogadores que se portaram tão bem!
Idealmente, os soldados matam o Predator e desarmam a bomba do mapa em tempo útil, atingindo assim todos os objetivos. Como o tempo total é tão curto, não é fácil completar as missões e, pelo menos nesse ponto, o jogo funciona de forma convincente.
Cross-play
Como já referimos, Predator: Hunting Grounds permite que jogadores de PC e PS4 joguem juntos, mas aparentemente ignorando se são ou não conhecidos, uma vez que as listas de amigos da consola e da Epic Store não se cruzem neste caso. O desempenho da versão da consola também é um pouco decepcionante, principalmente porque não se aproxima dos 60 fps normalmente exigidos em qualquer shooter online competitivo.
A jogabilidade também é menos fluída na consola do que seria de esperar, principalmente tendo em conta que este é um produto da casa e que não oferece uns visuais muito exigentes. A acrescentar a isto, o jogo às vezes não responde bem às teclas pressionadas, e tudo parece lento, um problema que acentua ainda mais algumas das já presente falhas na jogabilidade.
Seja qual for o motivo destes problemas, a verdade é que acabam por influenciar e prejudicar a sensação do jogo.
Não tivemos oportunidade de testar o jogo no PC, uma vez que apenas tivemos acesso à versão para a PS4, mas do feedback que pudemos recolher de amigos, essa versão apresenta melhor rendimento técnico, e chega facilmente aos aceitáveis 60 fps.
Veredito
Predator: Hunting Grounds é um jogo que reúne muitas ideias interessantes, que se combinam de uma forma pouco eficaz. Na sua base, o jogo ainda sugere a perseguição entre o Predator e Humanos como vimos nos filmes, que, aliás, resume toda a trama que dá origem ao jogo. Sem modo de história, aqui somos limitados a apenas a jogar online, numa espécie de modo multijogador assimétrico com soldados da IA à mistura.
Para o Predator, a missão é simples – caçar os quatro mercenários. Para estes, tudo se complica quando são obrigados a completar uma série de desafios em tempo recorde para saírem vitoriosos. Isto não significa que o predador tenha vantagem. Ele é muito mais desajeitado e ineficaz do que seria de esperar, o que torna toda a situação um pouco desconfortável.
O tempo de jogo é demasiado curto, e os objetivos estão muito próximos no mapa. Para além disso, os soldados da IA são quase inofensivos, não criando um desafio real. Para tornar tudo ainda mais confuso, os erros técnicos na jogabilidade e taxas de atualização flutuantes, além dos visuais que não surpreendem, acabam por tornar tudo mais esquecível, perante uma banda sonora original que salva a credibilidade da experiência.
Por tudo isto, Predator: Hunting Grounds acaba por ter mais potencial do que esperávamos, mas desilude por não saber aproveitá-lo. Para os fãs da saga Predator, ou para jogadores que procurem um jogo rápido, esta pode ser uma opção a considerar dentro de um pacote geral apenas razoável.
[Esta análise foi baseada na versão retail do jogo para PlayStation 4, gentilmente cedida pela PlayStation Portugal.]